Nem o inimigo é dos bons

(*) Carlos Brickmann

Michel Temer convive com ministros ameaçados pela Operação Lava Jato (e correlatas), com aliados que criticam o PT depois de participar de três períodos e meio de petismo no Governo, com suspeitas sobre o financiamento da campanha que o elegeu, ao lado de Dilma. Tudo bem, é do jogo; pelo menos é o que dizem os defensores de seu Governo.

O problema é que Michel Temer escolheu mal até seu principal inimigo. O presidente e sua articulação política temem Renan Calheiros – um senador que já foi obrigado a renunciar à Presidência do Senado por, entre outras coisas, fazer com que uma empreiteira pagasse a pensão de sua amante; que é investigado em 12 inquéritos, nove deles por questões da Lava Jato; que corre o risco de não se reeleger no ano que vem (as pesquisas o colocam atrás de Ronaldo Lessa, PDT, e Teotônio Vilella Filho, PSDB, e empatado com Benedito de Lira, PP); e que, para não perder o foro privilegiado, que o mantém a salvo do juiz Sérgio Moro, pode até desistir da reeleição para o Senado e sair para deputado – de preferência em lista fechada. Antes ser deputado em Brasília do que réu em Curitiba.

Para Renan, é bom brigar com Temer: o Governo tem baixa popularidade, e talvez seja melhor, em Alagoas, dispor do apoio de Lula. Mas Temer deveria arranjar adversários mais qualificados. O que não pode é o presidente brigar com alguém cuja maior aspiração é escapar de Moro.

Os mugidos

Coincidência: o PMDB elegeu os presidentes da Câmara e do Senado. Ambos, quando precisaram explicar a origem de seu dinheiro, voltaram-se à carne. Eduardo Cunha disse que ganhou muito exportando carne moída em lata para a África – embora nunca tenha lidado com carne, nem com exportações. Renan Calheiros apresentou fazendas com rebanhos primorosos, de rápido desenvolvimento, capazes de gerar grandes lucros. Nas mais modernas e rentáveis fazendas do país, a taxa de fertilidade das vacas é de 73%. Nas de Renan, eram de 86% (e, em 2004, chegaram a notáveis 90,8%). E houve até (veja aonde chega a maldade humana) quem dissesse que o gado declarado por ele não caberia na terra disponível.

Eduardo Cunha já está preso em Curitiba.

Amanhã vai ser outro dia

Amanhã, 10 de abril, Marcelo Odebrecht depõe para Sérgio Moro.

Boas palavras

O prefeito paulistano João Dória Jr., PSDB, determinou a extinção, na Prefeitura, de denominações que indiquem diferenças de classe social entre os cidadãos. Viva! Todos serão chamados de “senhor” e ”senhora”, abolindo-se termos como Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Magnanimidade, Vossa Eminência e outros quetais. Quem somos nós para julgar o mérito de um juiz a ponto de chamá-lo de “meritíssimo”? Qual parlamentar merece, por seus atos e formação, ser “Vossa Excelência”?

Certa vez, este colunista foi informado de que deveria dirigir-se a determinado funcionário público de alto nível com o termo “Vossa Magnificência”. Primeiro achei que era pegadinha; ao ser informado de que era assim mesmo, exigi ser chamado de Vossa Gordência. Ele, Magnífico; eu, Gordo. Pelo menos no meu caso o título refletiria a realidade.

Tolerância

Combate à intolerância – étnica, de gênero, de origem, poder aquisitivo, seja qual for – e promoção da tolerância. A revista Conib, da Confederação Israelita Brasileira, acaba de ser lançada e dá acesso gratuito. Um primor: coordenada por um competente jornalista, Henrique Veltman, traz textos de Celso Lafer, Renato Janine Ribeiro, Nilton Bonder, Bernardo Sorj, Yossi Alpern, Flávio Azm Rassekh, Hélio Carnassale, Carla Bassaneto Pinsky, Gabriel Holzhaker, Henrique Veltman, Ivanir dos Santos, Patrícia Campos Mello, Jaime Pinsky, Lelette Couto, Peter Demant, Rony Vainzof; e reproduz um excelente debate entre o ex-chanceler Celso Lafer, a advogada Akemi Kamimura e o advogado Fernando Lottenberg, presidente da Conib. O texto introdutório é de Eduardo Wurzmann, secretário-geral da Conib, e Fernando Lottenberg.

Outra visão

O bom jornalista Marco Piva, comentando uma nota desta coluna de apoio à extinção do Imposto Sindical, lembra que dos 17 mil sindicatos existentes no país (cálculo do relator da reforma trabalhista, Rogério Marinho, PSDB potiguar), mais de cinco mil são patronais, também ameaçados pela tesoura. “Os patrões, muitos deles, também vivem a boa vida sindical, sendo que alguns não pisam numa empresa há muitos anos”, diz Piva, e tem razão. Como disseram Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na voz de Nara Leão, é hora de por pra trabalhar gente que nunca trabalhou.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

apoio_04