No país de todos, rico e sem pobreza, um quilo de feijão custa quase 1% do salário mínimo

Fio trocado – Na música “Tô Voltando”, de autoria de Chico Buarque e transformada em sucesso nacional na voz da cantora Simone, a primeira frase – “Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto” – seria uma utopia nos dias atuais nesse país que é de todos, segundo o então presidente Luiz Inácio da Silva.

Independentemente de qual seja o motivo de uma viagem internacional ou até mesmo uma estada mais longa no exterior, quem volta traz no pensamento o desejo muitas vezes quase incontrolável de se deparar com um prato de arroz e feijão. Presença básica no prato do brasileiro em tempos outros, o feijão transformou-se em mercadoria de luxo.

Sob a égide da presidente Dilma Vana Rousseff, que adotou como slogan de governo a frase “País rico é país sem pobreza”, comprar um quilo de feijão exige de qualquer um, mais ou menos abastado, R$ 5. Considerando que o salário mínimo, que para o PT dos dias atuais é uma enormidade, vale míseros R$ 622, o trabalhador comum que quiser comprar um quilo de feijão terá de desembolsar 0,8% do provento.

Para muitos tal comparação pode parecer estapafúrdia, ou até mesmo provocativa, mas qualquer ser humano precisa muito mais do que um quilo de feijão para sobreviver. O discurso palaciano de que a inflação está sob controle é uma balela desmedida, pois quem sai às compras logo percebe que os preços subiram. Quando isso não acontece é porque a qualidade dos produtos caiu sensivelmente.

Quando engrossava ruidosamente as fileiras da oposição, o Partido dos Trabalhadores defendia a adoção pelo governo do salário mínimo classificado como ideal pelo Dieese, que hoje, segundo o órgão, deveria valer R$ 2.349,26, ou seja, 3,78 vezes o valor do mínimo atual. A chamada cesta básica, que está muito aquém de básica, custa, na média nacional, incríveis R$ 232,83, o que representa 37,43% do salário mínimo.

Essa brincadeira oficial de ficar escondendo a verdade tem tudo para acabar mal, pois é possível enganar a todos durante algum tempo, mas não todos durante todo o tempo. O esforço que o Palácio do Planalto faz para dourar a pílula resulta do iminente estouro da bolha de virtuosismo que Lula vendeu aos incautos do planeta.

Mesmo assim, há quem garante que o ex-metalúrgico é candidato favorito na eleição presidencial de 2014. Isso mostra que o Brasil é completamente ininteligível ou, então, o projeto da ditadura civil está dando certo.

De tal modo, Chico Buarque deve se apressar para mudar a letra da música, pois quem voltar antes da hora encontrará o prato vazio.