Operação Carne Fraca não pode funcionar como cortina de fumaça para Lula, que afunda na Lava-Jato

O escândalo que surgiu no vácuo da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, sem dúvida é gravíssimo e precisa ser investigado a fundo, com exemplar punição dos responsáveis pelo esquema criminoso que envolveu fiscais agropecuários e empresas do setor de carnes e derivados.

O Brasil transformou-se ao longo dos últimos anos em catapulta diária de escândalos de corrupção e outros crimes, mas a Carne Fraca, por mais importante que seja, não pode funcionar como cortina de fumaça para os encalacrados na Operação Lava-Jato, há três anos em cartaz e responsável pelo desmonte do esquema de superfaturamento de obras e pagamento de propinas conhecido como Petrolão.

Com políticos de todas as correntes envolvidos no esquema de corrupção, a estrela das investigações é o ex-presidente Lula, que, ciente de possível condenação, tenta transformar uma suposta candidatura à Presidência em escudo contra os efeitos colaterais do Petrolão. O que prova que Lula não tem como provar sua alegada inocência.

Há dias, em depoimento ao juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, onde tramita ação penal sobre a tentativa de obstrução da Justiça no caso da Lava-Jato, Lula disse não saber o valor exato de sua remuneração mensal, o que denota que alguém está a pagar suas despesas. Não há no Brasil quem desconheça o montante dos próprios proventos, mesmo um bilionário que não precisa se preocupar com as contas. Mesmo assim, o petista abusou do deboche ao falar sobre o tema.

No depoimento ao juiz federal Ricardo Soares Leite, o ex-presidente disse que há pelo menos três anos é vítima de perseguição, como se a Justiça brasileira, ao punir os corruptos, agisse como ente inquisidor. A ousadia de Lula é tamanha, que ele voltou a incensar sua questionável honestidade.

“Duvido que tenha um empresário ou político que tenha coragem de dizer que um dia me deu 10 reais, ou que um dia Lula pediu 5 centavos pra ele”, disse. O detalhe nesse palavrório insano é que Lula esqueceu de combinar com os delatores da Odebrecht, em especial com o presidente afastado do grupo, Marcelo Bahia Odebrecht, preso em Curitiba por ordem do juiz Sérgio Moro.


No acordo de colaboração coletiva, no âmbito da Lava-Jato, dirigentes, ex-executivos e funcionários da Odebrecht não pouparam o petista e alguns familiares. Ex-diretor da empreiteira, Alexandrino Alencar afirmou às autoridades que durante uma década a empresa pagou mesada de R$ 5 mil a José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, um dos irmãos de Lula. O ex-executivo disse também que os R$ 20 milhões pagos ao vidraceiro Taiguara Rodrigues por obra em Angola que jamais foi realizada, acabou custeando despesas de Frei Chico. Tudo a pedido de Lula.

No depoimento na 10ª Vara Federal de Brasília, o ex-presidente voltou a recorrer à ousadia e disparou: “Se tem um brasileiro nesse momento que quer a verdade nesse país, sou eu”. Pois bem, se Lula realmente quer que a verdade seja esclarecida, deveria assumir que a Odebrecht juntou-se à OAS para custear a reforma do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, que ele nega ser o proprietário que está registrado em nome de dois sócios de um dos seus filhos (Fábio Luís).

Outro filho de Lula, Luís Cláudio, teve ajuda financeira da Odebrecht para migrar de professor de Educação Física ao status de bem sucedido empresário do setor de marketing esportivo. Foi na condição de proprietário da LFT Marketing Esportivo que Luís Cláudio acabou se envolvendo com a empresa Marcondes e Mautoni, pivô de um escândalo que é investigado no escopo da Operação Zelotes.

A Zelotes investiga corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), com a compra de resultados de julgamentos no órgão, e também suposto pagamento de propina para aprovar leis de incentivos fiscais para a indústria automotiva. Por meio de medidas provisórias. De acordo com as investigações, a LFT Marketing Esportivo foi usada como fachada para o pagamento da propina. Enquanto os donos da Marcondes e Mautoni não sabem se o serviço foi de fato prestado, a PF afirma que Luís Cláudio apresentou às pressas um projeto que não passou de ajuntamento de textos disponíveis na internet.

Enquanto Lula brinca de candidato à Presidência da República, o juiz Sérgio Moro enche a caneta com tinta para, em breve, condenar o petista por corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes. A delação da Odebrecht está no Supremo Tribunal Federal (STF) desde a última semana, devendo chegar ao gabinete do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava-Jato, ainda nesta terça-feira (21). Caberá a Fachin decidir se autoriza ou não a abertura de inquérito para investigar os acusados pelos delatores.

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