Operação Lava-Jato: detalhes comprometedores ficaram à beira do caminho

alberto_youssef_02Entranhas perigosas – Na última reportagem sobre a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que desbaratou um esquema criminoso de lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos comandado pelo doleiro Alberto Youssef, preso em Curitiba, o ucho.info traz detalhes do inquérito que passaram despercebidos, mas devem ser analisados com muita dedicação pelas autoridades. Isso porque é cada vez maior a possibilidade mais algumas dezenas de nomes surgirem escândalo que vem tirando o sono dos frequentadores da Praça dos Três Poderes, na capital federal.

Ademais, o inquérito da Lava-Jato cartaz em alguns trechos citações a nomes que deveriam ter despertado o interesse dos policiais federais e de todas as autoridades envolvidas no esclarecimento do caso.

A rede criminosa comandada por Alberto Youssef reuniu personagens que em passado não muito distante frequentaram escândalos rumorosos e inquéritos policiais nada simples.

Confusões passadas

joaoc_genu_02A Polícia Federal pinçou mensagem de e-mail trocada entre o doleiro Alberto Youssef e João Claudio Genu, ex-chefe de gabinete do então deputado José Janene e condenado pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470, que teve no foco o Mensalão do PT, o maior e mais ousado escândalo de corrupção da história política brasileira.

Durante a CPI dos Correios, em 2005, e o trâmite da Ação Penal no STF, Genu, pessoalmente ou por meio de advogados, sempre negou qualquer participação no esquema criminoso operado a partir do Palácio do Planalto e com a conivência explícita de Lula. Acontece que João Claudio Genu mentiu ao negar envolvimento no caso. Acusado de ter sacado R$ 1,1 milhão do “valerioduto”, Genu foi condenado inicialmente a 5 anos de prisão, em regime semiaberto, mas por conta dos chamados embargos infringentes teve a pena reduzida para 4 anos de prisão em regime aberto, que pode ser convertida em prestação de serviços comunitários, além do pagamento de multa no valor de R$ 260 mil.

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Desde o estouro do escândalo do Mensalão do PT, João Claudio Genu sempre insistiu em se fazer de vítima, como se desconhecesse as atividades nada ortodoxas do chefe, José Mohamed Janene. Na mensagem trocada com o doleiro, Genu cobra valor de que é supostamente credor e afirma que Youssef está se valendo de seus contatos, sem lhe dar a atenção que merece. No e-mail, o ex-assessor de Janene não poupou Alberto Youssef de ameaças, destacando que não abrirá mão do que tem direito e brigará até o fim, não importando as consequências.

Para quem conhece os bastidores da corrupção no Brasil sabe que essas mencionadas consequências são imprevisíveis, principalmente porque Genu faz menção a um tal “PR”, referência cifrada a Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava-Jato. Costa era muito ligado a José Janene e operava na petroleira nacional como braço avançado do então deputado federal, cuja ousadia levou-o, diante de muitos parlamentares aliados do governo, a referir-se a Lula com a expressão “filho da puta”.

Em seu desabafo quase melancólico, João Claudio Genu afirma que nos tempos de Janene o doleiro lhe dava mais atenção e cumpria as promessas. Ou seja, o caixa 2 cantava alto nos tempos de José Janene, que por conta do escândalo do Mensalão do PT usou um senador para tentar comprar o silêncio de um ex-assessor, que o abandonou ao descobrir a enxurrada de crimes e casos de corrupção.

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Espião israelense a serviço de doleiro

avner_shemesh_01O esquema criminoso comandado por Alberto Youssef era extremamente profissional, a ponto de fazer inveja aos mais experientes e implacáveis mafiosos. A estrutura para a lavagem de dinheiro usava empresas em vários locais, inclusive e principalmente em paraísos fiscais. Para que as autoridades não conseguissem identificar o rastro do dinheiro sujo, Youssef usava empresas brasileiras e companhias off-shore em múltiplos níveis, o que, em tese, camufla o “tracking” das transferências financeiras, muitas delas feitas a partir de falsos contratos de câmbio.

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Como todo mafioso que se preza, Alberto Youssef não confiava em seus parceiros. Por isso monitorava constantemente as pessoas com as quais fazia negócios com maior constância. Esse viés de desconfiança fica claro em um ponto do relatório da Polícia Federal sobre a Operação Lava-Jato. Uma mensagem interceptada pela PF mostra que o doleiro se valia dos serviços de Avner Shemesh, detalhe que deveria ter chamado a atenção dos policiais envolvidos nas investigações.

Avner Shemesh é um ex-coronel do exército israelense que recebeu treinamento do Mossad, serviço secreto do governo de Tel Aviv. Atuando no Brasil com desenvoltura no setor de espionagem clandestina, através de uma empresa de fachada, a Online Security, Shemesh ganhou os holofotes durante a Operação Chacal, deflagrada pela Polícia Federal em 2005 e que serviu de base para a Operação Satiagraha, também da PF. Na ocasião, Shemesh foi contratado por um conhecido banqueiro oportunista, cujo nome a Justiça, em decisão arbitrária e que remonta aos tempos da ditadura, nos proíbe de citar.

Shemesh passou a trabalhar para o banqueiro depois que explodiu o escândalo envolvendo a empresa norte-americana Kroll Associates, que patrocinou investigações no Brasil escandalosamente ilegais. Com a eclosão do escândalo da Kroll, que levantou a vida dos desafetos do banqueiro, este acabou migrando o seu plano de bisbilhotice para a empresa de Shemesh.

Em depoimento à CPI dos Grampos, em 2005, no Congresso Nacional, o banqueiro oportunista negou conhecer Avner Shemesh, mas a Polícia Federal tem em seu poder não apenas provas que confirmam esse relacionamento comercial criminoso, mas um vídeo em que o cunhado do contratante chega à casa do israelense, no elegante bairro de Cidade Jardim, na Zona Sul da capital paulista.

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Oportunista em ação

Avner Shemesh transgrediu todas as leis brasileiras ao atender os desejos escusos do seu cliente. Não apenas monitorou os passos dos desafetos do banqueiro e levantou a vida de cada um deles, como instalou dezenas de grampos telefônicos, sendo um deles na casa do editor do site. A atuação de Shemesh começou muito antes do estouro do escândalo da Kroll, que à época já enfrentava a concorrência do ex-coronel israelense.

Em 2004, por ocasião do segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo, o editor foi procurado por pessoas que se diziam emissárias de dirigentes petistas e que queriam encomendar um dossiê contra o tucano José Serra, que disputava o trono paulistano com a petista Marta Suplicy. Os supostos agentes do PT chegaram a oferecer US$ 500 mil, mas a resposta do editor sempre foi negativa. Até porque, é sabido que o ucho.info não é usina de dossiês, mas um site de notícias respeitado dentro e fora do País.

Depois de recusar a oferta dos alarifes para a feitura dotal dossiê, o editor, temendo represálias, preferiu comunicar o fato a cinco pessoas de sua confiança, dentre elas uma alta integrante do Judiciário. A conversa com a magistrada foi grampeada e a gravação levada supostamente a José Dirceu, que por sua teria acionado um dos seus estafetas, que levou um recado à mencionada magistrada. Disse o abusado porta-voz que o jornalista de São Paulo [Ucho Haddad] seria morto em algum momento.

Esse tópico, que foge do cerne da série de reportagens, serve para mostrar a essência criminosa do esquema liderado por Alberto Youssef, além de deixar claro que a inserção de Avner Shemesh na trama significa que o doleiro tem um arsenal de informações que pode desmontar a República.

CONFIRA ABAIXO AS REPORTAGENS ANTERIORES DA SÉRIE SOBRE A OPERAÇÃO LAVA-JATO

22 de Abril de 2014Operação Lava-Jato: Empresário e o ucho.info foram responsáveis pelas denúncias

23 de Abril de 2014Operação Lava-Jato: empresário que denunciou Janene viveu como refugiado; editor foi ameaçado

24 de Abril de 2014Operação Lava-Jato: os tentáculos de um grupo criminoso especializado em desafiar a lei e lavar dinheiro