Operação Lava-Jato: empresário que denunciou Janene viveu como refugiado; editor foi ameaçado

arma_fogo_15Efeitos colaterais – Dando sequência à série de reportagens sobre as denúncias que desaguaram na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, o ucho.info traz nesta edição detalhes sobre o modus operandi do grupo liderado por José Janene.

Quando acionou José Mugiatti Neto para pressionar o empresário Hermes Magnus, o finado mensaleiro José Janene tinha uma vaga ideia do tamanho do estrago que poderia surgir no horizonte nada cristalino de seus negócios. Mesmo assim, Janene apostava na possibilidade de as denúncias ficarem restritas a Londrina, onde seu poder de influência não era pequeno. O que o xeique do Mensalão do PT não esperava é que as denúncias prosperassem, especialmente com as muitas matérias do ucho.info, decisivas para o avanço das investigações.

Acuado diante das seguidas ameaças feitas por Janene e seus inseparáveis capangas, além da preocupação por causa da origem duvidosa do dinheiro que era aportado em sua empresa de tecnologia, Magnus decidiu deixar a cidade de Londrina, onde funcionava a Dunel Indústria e Comércio, empresa mundialmente reconhecida pela qualidade dos produtos e pela tecnologia de ponta empregada na fabricação de equipamentos de testes.

Sem conseguir reaver seus bens – máquinas e equipamentos – Hermes Magnus deixou a cidade paranaense, na esteira de um pavor justificável, rumo Santa Catarina, onde permaneceu durante pouco tempo, pois as ameaças não cessaram e atravessaram as fronteiras do Paraná.

A forma nada diplomática de José Janene de lidar com seus adversários e desafetos sempre foi conhecida em Londrina e também nos círculos mais íntimos da política nacional. Algo que o dono da Dunel foi obrigado a conferir de perto com o passar do tempo, uma vez que na etapa das tratativas o empresário sequer sabia quem era o peçonhento Janene.

Fuga necessária

Vivendo quase como refugiado em Santa Catarina, Hermes Magnus, desacorçoado com as perdas, viu somas em dinheiro desaparecerem de duas contas bancárias, sem que a Polícia Federal tivesse tomado alguma providência. A PF, que foi informada do crime e recebeu pistas do suposto responsável pela subtração de recursos, se limitou a aceitar a informação pouco convincente do gerente de uma das agências bancárias, que alegou ser o suspeito um bom cliente e de histórico irrepreensível.

Como se às autoridades nada representassem as ameaças e a apropriação indébita de que foi vítima, o empresário foi vítima de nova investida dos criminosos. Um imóvel, na cidade catarinense de Penha, onde começou a Dunel e passou a funcionar como arquivo de documentos, foi incendiado. A Polícia Federal foi informada sobre o fato, mas sugeriu a não feitura de boletim de ocorrência, sob a alegação de que a Polícia Civil de Santa Catarina não era confiável.

Estafeta de plantão do mensaleiro, José Mugiatti Neto soube do incêndio e disse ao empresário, em conversa telefônica gravada, que o melhor era não confiar na Polícia Federal, pois o ocorrido poderia ser fruto de uma contra-ação dos agentes federais. A gravação foi entregue à PF, que deveria ter pelo menos intimado Mugiatti para depor e esclarecer a afirmação leviana, mas nada aconteceu nesse sentido. No caso específico, a intenção de José Mugiatti, que cumpria ordens de Janene, era afastar o empresário da Polícia Federal, que poderia a qualquer momento mandar o esquema criminoso pelos ares.

Todas essas retaliações decorreram do fato de Magnus ter discordado da decisão do grupo de José Janene de usar a empresa como lavanderia financeira, situação que o obrigou a denunciar as muitas ilegalidades aos órgãos competentes. A partir das investigações, a Polícia Federal detectou uma impressionante ciranda financeira, envolvendo muitas empresas e diversos doleiros e profissionais da área de câmbio.

Práticas mafiosas

jose_janene_07O fato de Hermes Magnus ter deixado Londrina não surpreendeu os moradores da cidade, que ao longo dos anos se acostumaram com a fuga de pessoas que não suportaram as diversas ameaças feitas pelo grupo comandado por Janene, que em conversas mais íntimas sempre fazia questão de exaltar o seu poderio econômico como base de algumas decisões ilegais que tomava. Quem conheceu José Janene na intimidade sabe que seu apego ao dinheiro era enorme. Quando conversava sobre negócios escusos e era questionado sobre a possibilidade de algo não dar certo, o ex-deputado colocava as duas mãos sobre o peito e esfregava os dedos indicadores nos polegares, repetidas vezes, dando a entender que o vil metal sempre falava mais alto e que era possível corromper de forma continuada os agentes da lei.

Muitas das ameaças não eram feitas diretamente por Janene, mas por um staff truculento e de alta rotatividade, que se encarregava do serviço imundo típico de mafiosos. Em determinadas situações, até mesmo alguns parentes do mensaleiro eram escalados para missões ilegais, inclusive para o transporte de dinheiro vivo em viagens rodoviárias pelo Brasil.

As retaliações contra Hermes Magnus não cessaram com o fim da parceria empresarial com o bando de Janene. Longe do Brasil, assunto que trataremos mais adiante, o empresário foi informado por uma funcionária de que dois representantes da Secretaria da Receita Federal teriam lhe procurado no seu endereço, em Santa Catarina. É importante destacar que a Receita Federal raramente age dessa maneira, limitando-se, na extensa maioria das vezes, a intimar o contribuinte a comparecer na repartição para esclarecimentos. Outra prática comum da Receita é a abertura de processo contra o contribuinte, assunto que fica a cargo da Procuradoria da Fazenda Nacional.

Essa estranha incursão na residência do empresário, em Santa Catarina, teve todos os ingredientes de uma armação patrocinada por marginais tomados pelo desespero diante da possibilidade de o castelo de lama ruir a qualquer momento. O temor pelo pior fez com que os implicados se valessem de artifícios ilegais, como o da intimidação, mas nada foi capaz de conter a verdade, que ora sobra no inquérito da Operação Lava-Jato, que acabou descobrindo muito além do previsto.

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Cruzando as fronteiras do Brasil

Cada vez mais pressionado e com remotas possibilidades de reaver os bens e retomar seu negócio, o empresário que foi vítima de José Janene se viu obrigado a deixar o País, como forma de garantir a própria vida, sob constante ameaça. Magnus tentou retomar a normalidade do cotidiano em uma cidade dos Estados Unidos, mas mesmo longe não conseguiu ter sossego. Através de mensagens eletrônicas era constantemente ameaçado, além das tentativas de extorsão de que foi alvo por parte de pessoas nada confiáveis e que surgiam para supostamente ajudá-lo na batalha de David contra Golias.

Como destacado na reportagem anterior, o grupo de Janene vislumbrou a possibilidade de transformar a Dunel Indústria e Comércio não apenas em uma central de branqueamento de capitais, mas também e principalmente em uma cortina de fumaça para a remessa supostamente legal de dinheiro ao exterior. Prática criminosa detectada pela Polícia Federal nas investigações que embasaram a Operação Lava-Jato.

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No inquérito da PF é possível identificar essas operações escusas de remessa de dinheiro nas conversas entre os doleiros liderados por Alberto Youssef, que continua preso em Curitiba. O grupo utilizava supostas transações comerciais internacionais para dar ares de legalidade às transferências financeiras.

Em território norte-americano, o empresário Magnus tentou retomar a vida e o próprio negócio, mas muito estranhamente surgiram no caminho pessoas dispostas a tumultuar o processo. A investida de Hermes Magnus na Terra do Tio Sam não prosperou como planejado, uma que pessoas inicialmente dispostas a empreender passaram a criar, da noite para o dia, dificuldades inexplicáveis.

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Ameaças ao editor

Como destacamos na primeira reportagem da série, as investigações só avançaram porque o editor do ucho.info, que atendeu a um pedido de um jornalista e investigou o assunto à exaustão, cobrou das autoridades procedimentos legais para liquidar uma quadrilha que se estabeleceu para atuar ilegalmente no ramo financeiro, além de patrocinar corrupção e ser conivente com o desvio de dinheiro público.

Ao longo dos últimos cinco anos, o editor, jornalista Ucho Haddad, sofreu muitas ameaças disparadas a partir do grupo que outrora era comandado por José Janene, mas em nenhum momento essas intimidações sequer arranharam o lema maior deste noticioso, que é defender o Brasil e os brasileiros.

Enfrentar um grupo criminoso com muitos tentáculos fincados na máquina estatal é tarefa das mais difíceis e perigosas, mas permanece intacta nossa confiança na possibilidade de resgatar o país das mãos desses malfeitores, que nos bastidores operam a mando de políticos que insistem em falar em democracia e retidão.

Risco de vida

É importante que as autoridades envolvidas na investigação que culminou com a Operação Lava-Jato reservem algum tempo para analisar os riscos de que Hermes Magnus é alvo, uma vez que foi a partir de suas denúncias, com o apoio deste site, é que a quadrilha – antes sob o comando de Janene, agora sob a batuta de Youssef – foi desbaratada. Assim como o editor, Magnus é um arquivo vivo e por isso merece imediata proteção, sob pena de sua vida ser colocada cada vez mais na alça de mira dos marginais presos pela Polícia Federal.

A Operação Lava-Jato revelou que o esquema do doleiro Alberto Youssef teria movimentado aproximadamente R$ 10 bilhões, o que não significa que tal montante foi apreendido e que esses bandoleiros estejam pobres. Há ainda muito dinheiro do esquema circulando entre contas bancárias ao redor do planeta, o que permite ao grupo financiar retaliações contra desafetos, como é o caso do empresário.

É preciso que as autoridades não apenas disponibilizem proteção constante a Hermes Magnus, mas o ajude a dar andamento a um pedido de asilo político a algum país considerado minimamente seguro. Do contrário, a vida do empresário estará sempre na corda bamba.

Em relação ao editor do site, co-autor das denúncias e constantemente ameaçado, os quadrilheiros flagrados pela Lava-Jato devem, sim, ficar muitos dias sem dormir, pois o que veio à tona até o momento é apenas a ponta de um enorme iceberg de lama. Há muito a ser revelado e o Brasil saberá em breve quem é quem nessa barafunda que alguns insistem em chamar de democracia.

As operações financeiras internacionais, todas ilegais, apontam na direção de um universo muito maior de envolvidos, alguns dos quais de alta patente. O polígono de corrupção e outras ilegalidades que se formou a partir do esquema atualmente liderado por Youssef é piramidal, ascendente e capilar. Detalhe é suficiente para que os denunciantes recebam proteção imediata por parte do Estado.

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Esforço concentrado

Por determinação do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, o Ministério Público Federal criou uma força-tarefa para cuidar dos desdobramentos da Operação Lava-Jato. O grupo conta com cinco experientes procuradores da República e vem atuando a partir da capital paranaense.

A decisão do procurador-geral ratifica afirmação recorrente deste site: a operação da Polícia Federal desvendou, por enquanto, a ponta de um grandioso esquema montado para o cometimento de crimes dos mais variados. Com o avanço das investigações, principalmente por parte do Ministério Público Federal, é grande a possibilidade de novos e importantes nomes da política nacional surgiram no rol dos envolvidos com o grupo liderado por Alberto Youssef.

Reforçando as nossas suspeitas, algumas das operações financeiras listadas no inquérito da Lava-Jato sugerem que políticos destacados, que integram a base de apoio do governo do PT, em breve surgirão no rol dos acusados. Isso porque algumas transferências de recursos para o exterior não deixam dúvidas acerca dos beneficiários. O assunto está sob investigação e as autoridades saberão o momento adequado de trazer a lume o novo capítulo de um escândalo de proporções absurdas.

CONFIRA ABAIXO AS REPORTAGENS DA SÉRIE SOBRE A OPERAÇÃO LAVA-JATO

22 de Abril de 2014Operação Lava-Jato: Empresário e o ucho.info foram responsáveis pelas denúncias