O principal partido da oposição na Turquia, Partido Republicano do Povo (CHP), pediu nesta segunda-feira (17) ao Conselho Eleitoral que anule o resultado do referendo constitucional, realizado no domingo, devido a irregularidades no pleito.
Resultados preliminares divulgados pela agência de notícias estatal Anadolu apontam que o “sim” à introdução de um sistema presidencialista, que deve conceder amplos poderes ao presidente Recep Tayyip Erdogan, recebeu 51,4% dos votos, contra 48,6% do “não”. O Conselho Eleitoral confirmou a vitória do “sim” e afirmou que o resultado final deve ser conhecido somente dentro de doze dias.
Bulent Tezcan, vice-presidente do pró-curdo CHP, afirmou que a validade do resultado está ameaçada por “amplas irregularidades” registradas na votação, destacando que em alguns locais foram realizadas “votações secretas”.
Para Tezcan, a única maneira de acabar com as discussões sobre a legitimidade do voto seria o Supremo Conselho Eleitoral cancelar a votação. No domingo (16), a oposição havia prometido contestar ao menos 2,5 milhões de votos que considera suspeitos, algo que poderia alterar o resultado, já que o “sim” venceu por uma diferença de 1,25 milhões de votos.
Selo oficial
Normalmente, para um voto ser considerado válido é preciso que o mesmo contenha o selo oficial no verso, ser colocado em envelope que também traz o selo e ser entregue ao eleitor por um funcionário do órgão eleitoral num local de votação. O sistema tem como objetivo assegurar que apenas um voto por pessoa é contabilizado.
No entanto, o Conselho Eleitoral anunciou, no domingo, que aceitaria envelopes sem o selo após muitos eleitores afirmarem ter recebido envelopes em branco. O órgão eleitoral afirmou que as cédulas serão consideras inválidas apenas se for provado que eram fraudulentas.
“As cédulas não são falsas, não há motivo para dúvida”, declarou o presidente Supremo Conselho Eleitoral, Sadi Güven. A decisão sem precedentes de aceitar tais papéis causou indignação, e Tezcan acusou o órgão eleitoral de não cumprir o que estabelece a lei.
Segundo o político, em “muitos lugares”, especialmente nas regiões leste e sudeste do país, onde se concentra a população curda e os colégios eleitorais fecharam mais cedo, teve lugar um “pleito secreto”, ou seja, sem a presença de observadores ou representantes da oposição. Tezcan afirmou que se for necessário está disposto a recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
OSCE aponta irregularidades
Observadores que vêm monitorando o referendo na Turquia afirmaram nesta segunda-feira que os procedimentos utilizados ficaram aquém dos padrões internacionais e que o pleito não pode ser considerado verdadeiramente democrático.
Tana de Zulueta, chefe da missão de observação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) disse que a decisão do conselho eleitoral de considerar válidos votos sem o selo oficial mina importantes salvaguardas contra fraudes.
A OSCE descreveu uma série de irregularidades no referendo, incluindo a “falta de imparcialidade”, com uma campanha distorcida em favor do “sim” e intimidação da campanha pelo “não”.
“O referendo se realizou num ambiente político no qual as liberdades fundamentais essenciais a um genuíno processo democrático estavam restringidas devido ao estado de emergência e os dois lados não tiveram oportunidades iguais para apresentar a sua posição aos eleitores”, disse Zulueta.
Em comunicado conjunto, observadores do Conselho da Europa e da OSCE indicam que a cobertura dos meios de comunicação social foi parcial e que existiram limitações às liberdades fundamentais.
A vitória do “sim” no referendo significa a substituição da atual democracia parlamentarista por uma presidência executiva de grandes poderes, a partir de 2019, e poderá fazer com que Erdogan permaneça no cargo até 2029.
Entre as mudanças previstas está o fim do cargo de primeiro-ministro, com todos os poderes deste sendo transferidos para o presidente, que poderá ainda emitir decretos e nomear a maioria dos juízes e autoridades responsáveis por fiscalizar as suas decisões. A oposição afirma que as mudanças ameaçam a separação de poderes e corroem ainda mais a independência do Judiciário. (Com agências internacionais)