Poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade são encontrados por estudante

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Recentemente, três poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade foram descobertos por uma aluna do curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), situada no interior de São Paulo.

A estudante Mayea Fontebasso encontrou os escritos quando fazia sua pesquisa de iniciação científica sobre textos literários publicados na revista “Raça”, editada em São Carlos entre 1927 e 1934. Os textos do poeta mineiro foram publicados em junho de 1929.

Após encontrar os poemas, Mayea e o professor Wilton José Marques, seu orientador, consultaram inventários e volumes que reúnem os trabalhos de Drummond. Os três poemas não constavam em nenhum deles.

De acordo com o jornal “O Globo”, após consultarem Antônio Carlos Secchin, crítico e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), especialista na obra do poeta, eles receberam a confirmação de que o material em questão era realmente inédito.

A revista “Raça”, dirigida pelo jornalista Orlando Damiano (1903-1933), teve grandes escritores brasileiros entre seus colaboradores, como Mário de Andrade, Cassiano Ricardo e Menotti Del Picchia, além de Carlos Drummond de Andrade.

Abaixo segue a íntegra de um dos textos inéditos:

O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina…

As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam…

As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada…

As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida…

Como é bela a volúpia inútil de teus dedos…

O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de Junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão…

Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre…

E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos…

E as mãos viúvas tateiam, insones, − as friorentas mãos viúvas…

O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias…

E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes…

E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas…

E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra…

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