Prefeito eleito de SP, João Doria diz-se meticuloso em todas as áreas, mas na gramática deixa a desejar

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No vácuo de matéria sobre pedido do empresário Fernando Bittar à empresa telefônica OI para instalasse uma antena de celular próximo ao sítio Santa Bárbara, em Atibaia, cuja propriedade de fato os investigadores da Operação Lava-Jato creditam ao alarife Lula, o jornal “Folha de S. Paulo” trouxe na edição desta quinta-feira (8) reportagem sobre pleito similar feito pelo prefeito eleito de São Paulo, João Doria Junior.

A diferença entre um pedido e outro está no fato de que Doria solicitou ao presidente da OI, que encontra-se em recuperação judicial, celeridade na instalação de serviços de telefonia fixa e de acesso à internet em condomínio de luxo em Trancoso, cidade localizada no sul da Bahia.

No e-mail enviado em 2012 a James Meaney, então diretor de operações da OI, Doria lembra que no condomínio têm imóveis algumas pessoas importantes e famosas, como se isso fizesse do empreendimento algo fora da realidade democrática que o elegeu prefeito da quarta maior cidade do planeta.

“Nosso condomínio acaba de ser inaugurado em Trancoso e dele fazem parte o Ivan Zurita [então presidente da Nestlé], Nizan Guanaes [publicitário], Amilcare Dalevo [dono da Rede TV!], o Ronaldão [Fenômeno], Roberto Carlos [cantor], Dody Sirena [empresário do cantor] e eu, entre outros empresários e personalidades que estão completamente sem telefone no condomínio”, escreveu Doria Junior no e-mail.

Usar a rede de relacionamentos, o chamado “network”, não é crime, pelo contrário, mas não é recomendável valer-se dos conhecidos para atropelar um direito que é universal. Em Trancoso há pessoas não famosas, as quais devem ter seus direitos respeitados. Se até então o tal condomínio não contava com serviço de telefonia, fica patente que o governo federal errou sobremaneira ao entregar o negócio à OI.


Ao final da mensagem, Doria escreve como se o seu pedido tivesse sido atendido: “Agradeço muitíssimo sua atenção e espero rever você em breve. Inclusive para agradecer”.

A preocupação maior que surge na esteira da reportagem da Folha não é o pedido em si, mas os erros gramaticais primários que constam do e-mail enviado ao então dirigente da empresa de telefonia. No texto há ausência de vírgulas em determinados trechos, assim como vírgulas sobram em outros. Não obstante, da mensagem constam frases desconexas e erros de conjugação verbal e de concordância. Algo imperdoável para alguém que comandará uma cidade da importância e do gigantismo da capital paulista.

Não se trata de preciosismo de nossa parte, mesmo sabendo que o texto é marcado pelo tom coloquial, mas João Doria faz questão de apresentar-se à opinião pública como perfeccionista e detalhista, que como tal não pode tropeçar no idioma da terra mater. Alguém há de alegar que o texto da mensagem não foi escrito pelo próximo alcaide paulistano, mas, sendo verdadeira essa hipótese, Doria deveria escolher melhor seus assessores, em especial os escribas.

Para quem promete revolucionar a maior cidade brasileira, sabendo que o orçamento municipal é um “cobertor curto em noite de muito frio”, expressar-se de forma adequada e clara, principalmente ao escrever, é condição sine qua non. Ademais, esses tropeços redacionais do prefeito eleito têm um agravante: João Doria é também jornalista.

Enfim, resta torcer para que Doria não tropece na prefeitura como tropeçou no e-mail endereçado à OI. Como bradou o imperador romano Julio César aos seus comandados, à beira do Rio Rubicão, “Alea jacta est” (a sorte está lançada). Pelo sim ou pelo não, o lema da cidade de São Paulo é “Non dvcor dvco” (non ducor duco), expressão que em Latim significa “Não sou conduzido, conduzo”.

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