Prisão do mensaleiro foragido Henrique Pizzolato não pode fazer sombra às denúncias de Tuma Jr.

romeu_tumajr_13Muita atenção – O noticiário nacional certamente se ocupará, nos próximos dias, com os desdobramentos a prisão do mensaleiro Henrique Pizzolato pela polícia italiana, na cidade de Maranello, na região Norte do país europeu, mas isso não pode comprometer as graves denúncias feitas por Romeu Tuma Jr., ex-secretário nacional de Justiça, que acusou o PT de ter cometido crimes graves sob o manto do então presidente Luiz Inácio da Silva.

Ao participar do programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (3), Tuma Jr. voltou a afirmar que o PT montou na estrutura do governo uma usina de dossiês, que funcionava apenas para fustigar os adversários da legenda. Questionado pelo repórter Fernando Gallo, do jornal “O Estado de São Paulo”, sobre o número de dossiês produzidos pelo governo do PT no período em que esteve à frente da Secretaria Nacional de Justiça, Tuma disse que tem conhecimento de pelo menos quatro. O jornalista, que mais parecia um inquisidor, disse considerar pouco para um período de três anos e meio. Trata-se de um absurdo, mas o jornalista preferiu não ver problema na atitude criminosa do governo.

Antes de montar uma usina de dossiês no governo, o PT os encomendava a terceiros, normalmente a pessoas com acesso a informações privilegiadas ou profissionais do setor de comunicação. Essa prática veio desde os tempos em que os petistas lideravam as fileiras da oposição e frequentemente aterrissavam nas redações dos jornais carregando debaixo do braço envelopes recheados de documentos, quase sempre recebidos de pessoas anônimas.

Campo minado

Em 2004, por ocasião da disputa pela prefeitura da maior cidade brasileira, São Paulo, o PT tentou encomendar, por R$ 100 mil um dossiê contra Gilberto Kassab, que à época era candidato a vice na chapa encabeçada pelo tucano José Serra. O processo eleitoral caminhava para o primeiro turno e a resposta obtida pelo PT foi negativa.

Com a disputa seguindo para o segundo turno, entre José Serra e Marta Suplicy, o PT voltou à carga novamente, desta vez com o objetivo de encomendar um dossiê contra o candidato tucano. A oferta começou com US$ 300 mil, para que fosse produzido um dossiê que comprometesse Serra, e terminou com um interlocutor oferecendo US$ 500 mil em dinheiro. E de igual modo a resposta foi negativa.

A audácia de quem encomendou o dossiê foi tamanha, que na manhã familiares de quem foi procurado pelos petistas passaram a sofrer intimidações. O assunto foi devidamente comunicado a um alto integrante da Justiça, mas mesmo assim os delinquentes não se intimidaram e, meses depois, ameaçaram o magistrado, não sem antes mandar um recado que matariam aquele que se negou a produzir os dossiês.

Assassinato de Celso Daniel

Outra denúncia de Tuma Jr. que não pode ser esquecida é a que se refere ao brutal crime que terminou com a morte de Celso Daniel, então prefeito de Santo André e cotado à época dos fatos para assumir o comando da campanha de Lula, em 2002.

Celso Daniel foi sequestrado e morto de forma violenta, apenas porque discordou da destinação dada ao dinheiro da propina cobrada de empresários da cidade do Grande ABC. Romeu Tuma Jr. no Roda Viva, disse que chegou ao local onde o corpo foi encontrado e logo percebeu que Celso Daniel tinha sido torturado. O que confirma as denúncias feitas pelo ucho.info ao longo dos últimos dez anos.

Tuma Jr. por certo desconhece um detalhe, até porque foi afastado do caso sem explicação, mas Celso Daniel foi submetido a processo de empalação, método de tortura bárbaro que remonta à Idade Média.

Qualquer policial experiente, como é o caso de Tuma Jr., sabe que um sequestrado não é submetido a tortura, a não ser para forçar o pagamento de resgate ou por deter alguma informação que o mandante do crime deseja saber. No caso em questão não houve pedido de resgate, o que faz com que prevaleça a segunda hipótese.

Celso Daniel não apenas tinha conhecimento da maneira criminosa de agir dos seus companheiros de legenda, como sabia os dados da conta para a qual foram remetidos os valores decorrentes da cobrança de propina.

A elucidação da morte do ex-prefeito de Santo André ajudará na solução de um enigma que prevalece no Supremo Tribunal Federal e na Procuradoria-Geral da República, que precisam confirmar as outras fontes de abastecimento do caixa do Mensalão do PT, além do Visanet.

Os empréstimos bancários foram fictícios e serviram para “repatriar” o dinheiro imundo e ilegal que estava depositado em contas abertas em paraísos fiscais. No livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”, o ex-secretário nacional de Justiça cita a dificuldade que teve para investigar contas bancárias em paraísos fiscais e creditadas a petistas ilustres.

Outra ponta

Se as muitas denúncias de Romeu Tuma Jr. forem tratadas com a devida responsabilidade pelas autoridades competentes, será possível decifrar a terceira fonte de abastecimento do caixa do Mensalão do PT. Com a conivência e participação de Marcos Valério, duas empresas de telefonia celular despejaram dinheiro no caixa do criminoso esquema palaciano, pois o controlador de ambas tinha interesse em se aproximar do Palácio do Planalto.

As polpudas contribuições financeiras foram viabilizadas através de campanhas publicitárias superfaturadas, sendo que o valor excedente era repassado ao caixa do Mensalão do PT. Essa operação explica o fato de um contador ligado a Marcos Valério ter ateado fogo, nos arredores de Belo Horizonte, em talões de notas fiscais que poderiam confirmar a fraude.