PT e PSDB, cada um à sua maneira, continuam dependentes de seus principais líderes, Lula e FHC

Despertador funcionando – O PT continua dependendo de Lula. O PSDB continua dependendo de Fernando Henrique Cardoso. Lula adora aparecer, pois é a mais perfeita mistura de histrionismo com fanfarrice. FHC, ao contrário, prefere manter-se à distância, pois compreende e aceita com naturalidade sua condição de ex-presidente. Há dez anos no governo central, o PT faz o que Lula manda. Há uma década longe do Palácio do Planalto, o PSDB deixa de fazer o que FHC entende como correto.

Por conta dos seguidos casos de corrupção, em especial o recente escândalo de Rosemary, a Marquesa de Garanhuns, Lula foi obrigado a sair de cena para evitar a imprensa e não dar explicações aos brasileiros. Por mais que queira mostrar independência, Dilma Rousseff continua precisando de Lula, pois sem a sombra do mentor eleitoral seu governo corre o risco de naufragar de vez.

Em fevereiro próximo, depois do Carnaval, Lula deve dar os primeiros passos retornar à cena política, carregando debaixo do braço alguma desculpa esfarrapada ou até mesmo apelando à desfaçatez para dizer que de nada sabia. Enquanto isso não acontece, FHC ressurge mais uma vez para que o PSDB desperte e faça oposição de fato ao governo, que se transformou em uma usina de incompetência e desmandos.

FHC tem opinado sobre assuntos relacionados à economia brasileira, afinal a situação de paralisia que tomou conta do governo federal é preocupante e merece críticas. Em apenas um dia, no domingo (30), Fernando Henrique Cardoso apareceu em dois programas de televisão. No “Domingão do Faustão”, para cumprimentar o cantor Roberto Carlos, e no “Manhattan Connection”, como sempre faz na última edição do ano do programa comandado pelo jornalista Lucas Mendes.

Longe do poder e se dedicando a palestras e compromissos do mundo acadêmico, FHC consegue externar seus pensamentos e opiniões com mais leveza. Lula é fã de discurso repetitivo e frases de efeito, mas deve redobrar a atenção.

Todo cuidado é pouco

Política, como se sabe, é enxadrismo, o que significa que qualquer movimento errado de agora em diante pode levar Lula à derrota por xeque-mate. Nenhum político, mesmo aliado, aceita ser amortecedor de corrupto por muito tempo e de graça. Para que isso não ocorra e escape do controle, o Palácio do Planalto terá de abrir os cofres e aceitar ser refém da base de sustentação liderada pelo PMDB.

Fora isso, o governo terá de manobrar ou abafar muitas investigações em curso, uma vez que é grande o risco de aliados de peso serem arrastados ao olho do furacão.

A parcela da imprensa que aceita as ordens palacianas já começa a se inquietar, apontando os erros do governo do PT e abrindo mais espaço aos casos de corrupção. A razão é muito simples. No Brasil, jornalismo de encomenda virou moda, mas poucos são os profissionais do setor que, em casos extremos, rasgam a coerência para defender um corrupto ou um incompetente. Esse movimento pode crescer, sem direito a retorno.

Lula, que é a voz única do PT, deveria repensar o seu papel, para mais adiante não dizer novamente que ele e o partido foram vítimas de uma conspiração das elites. Ambos, Lula e o PT, são vítimas da própria peçonha.