Queda de braços entre Dilma e o PT pode levar a presidente a abandonar a legenda em breve

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Desde que a crise econômica brasileira engatou marcha acelerada, situação reforçada por seguidos escândalos de corrupção, a relação entre a presidente Dilma Rousseff e a cúpula do Partido dos Trabalhadores vem azedando com o passar do tempo. Em momentos de fervura alta nesse convívio político nada republicano, alguém sempre aparece com uma tina de água fria para conter ânimos exaltados, quase sempre de Lula ou de Dilma. Em outras palavras, criador e criatura há muito não se entendem.

Com o acirramento do cenário econômico e a possibilidade cada vez maior de Lula ser alcançado de vez pelas garras da Justiça, a pressão sofrida pela presidente da República aumentou de forma exponencial. Afinal, o PT quer que Dilma deixe de lado a operação para salvar a economia nacional, em nome de um projeto de poder que está ameaçado por uma enxurrada de escândalos.

As propostas palacianas para resgatar uma economia que vem sendo arrastada para o olho do furacão têm recebido críticas sistemáticas dos “companheiros”, que alegam ser o conjunto de medidas nocivo ao trabalhador. Considerando que o PT precisa reconquistar a confiança da parcela incauta da população, que agora sofre por ter acreditado em promessas mentirosas, as críticas a Dilma crescem – em número e conteúdo – com o avanço das horas.

A mais nova crítica petista na direção do Palácio do Planalto se deu após a aprovação, pelo plenário do Senado Federal, do projeto que livra a Petrobras da obrigação impositiva de participar da exploração de petróleo na camada pré-sal, ao mesmo tempo em que flexibiliza os percentuais de participação da estatal nos consórcios criados para tal fim. Após ser derrotado no Senado, o PT avisou o governo ao afirmar que fará campanha em todo o País contra a matéria, que agora precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados.

Voltando ao azedume que separa Dilma e o PT, a presidente da República parece decidida a não participar das comemorações dos 36 anos da legenda, evento marcado para acontecer no sábado (27), no Rio de Janeiro. Ministros petistas ainda tentam convencer a presidente a mudar de ideia, mas a missão parece impossível.

Não é de hoje que a situação política de Dilma inspira cuidados, assim como uma eventual saída do PT vem sendo considerada por alguns analistas, inclusive pelo editor do UCHO.INFO. Fora do partido que já foi comparado a uma organização criminosa, a presidente se livraria do fardo que representa os muitos escândalos de corrupção que empurram o PT ladeira abaixo.

Essa hipótese voltou a ser discutida pelas poucas pessoas que frequentam o anel orbital mais próximo de Dilma, que a qualquer instante pode anunciar ingresso em nova legenda. Nesta quinta-feira (25), cresceu nos bastidores do poder os rumores de que a presidente pode filiar-se a um partido pequeno, que por obra da outrora única deputada federal cresceu da noite para o dia, cooptando seis novos parlamentares – agora são sete deputados.

A legenda em questão é o Partido Trabalhista Nacional, o PTN, que traz em sua logomarca a “velha vassourinha” de Jânio da Silva Quadros e é uma espécie de capitania hereditária da família comandada por José de Abreu, fundador da legenda.


Para quem não sabe, José de Abreu é pai da deputada federal Renata Abreu (SP), que vem voando baixo nos escaninhos da Câmara dos Deputados. Mas há na árvore genealógica da família Abreu um detalhe interessante. O fundador do PTN é irmão de Paulo Abreu, dono do Hotel Saint Peter (o negócio já pertenceu ao polêmico Sérgio Naya), em Brasília, onde o ex-ministro e mensaleiro José Dirceu teria conseguido, no final de 2013, um emprego (sic) de gerente administrativo, com direito a salário mensal de R$ 20 mil.

Essa manobra aconteceu no período em que Dirceu cumpria pena no Complexo Prisional da Papuda e tinha direito a progressão de regime, desde que comprovasse atividade laboral. A notícia sobre a armação que uniu Dirceu e Abreu foi noticiada com exclusividade pelo UCHO.INFO, em 23 de novembro de 2013.

Além do hotel, Paulo Abreu é dono da Rede Mundial de Comunicação, que controla as emissoras de rádio Tupi FM, Tupi AM, Mundial, Kiss FM, Scalla FM, Apollo FM, Iguatemi Prime FM, Terra AM, Terra FM e BR FM, entre outras.

A ideia de Dirceu era instalar no hotel da capital dos brasileiros uma central de lobby. Na ocasião, ele acenou com a possibilidade de transferir de São Paulo para Brasília a sua empresa de consultoria, que até então funcionava em bairro nobre da capital paulista, mas em seguida o plano foi descartado.

O primeiro cliente do ex-chefe da Casa Civil e mensaleiro condenado – agora preso na Operação Lava-Jato – seria o próprio Paulo Abreu, que trabalha intensamente nas entranhas do poder para ressuscitar a extinta TV Excelsior, que pertenceu ao empresário Mário Wallace Simonsen e fechou as portas em setembro de 1970, em pleno regime militar.

O retorno da TV Excelsior, que recebeu aval da cúpula do Ministério das Comunicações, continua na dependência de decreto de anistia que precisa ser assinado pela presidente Dilma Rousseff, assunto que certamente ainda repousa na principal escrivaninha do Palácio do Planalto. Para tanto, o empresário Paulo Abreu, que é próximo do ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo da Presidência), sempre contou com a simpatia de petistas “cinco estrelas”, como o advogado Sigmaringa Seixas, o ministro José Eduardo Martins Cardozo (Justiça) e o ex-ministro das Comunicações, Paulo Bernardo da Silva, que atualmente está sem voz ativa no partido.

Paulo Abreu, tio da deputada que vem fisgando parlamentares para o PTN, é dono do Saint Peter em sociedade com uma empresa chamada Truston International, sediada no Panamá, cujo procurador é Rothschild de Abreu, seu filho. Até esse ponto nada de muito estranho havia, pois a constituição de offshores não configura crime. Contudo, eis que surgiu a informação de que José Dirceu abrira uma filial de sua consultoria no Panamá, no mesmo endereço da Truston International.

Se Dilma Rousseff está de fato prestes a reforçar os quadros do acanhado PTN não se sabe, mas, sendo verdade, a presidente deveria checar melhor o terreno minado que pretende pisar depois de deixar a “companheirada” à beira do caminho. É verdade que o governo do PT não tem vocação para checagem de terrenos – a tragédia de Mariana fala por si só –, mas há algo estranho e borbulhante nos escaninhos palacianos.

É difícil prever quem será derrotado nessa insana queda de braço política, que promete novos e acalorados capítulos, mas de novo o maior perdedor será o povo brasileiro, que não mais suporta tanta corrupção e incompetência. Como disse certa feita um conhecido e gazeteiro comunista de botequim, “nunca antes na história deste país”. E PT saudações! Ou será PTN saudações?

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