Queda na arrecadação obrigará o governo a maquiar o superávit primário e enganar os investidores

Conta que não fecha – A arrecadação de impostos caiu 7,36% em julho, para R$ 89,7 bilhões. O segundo mês consecutivo de queda se deveu aos incentivos fiscais concedidos pelo governo, mas também e principalmente ao esfriamento da economia brasileira, que sofre os efeitos colaterais da crise internacional que vem fazendo seguidas vítimas na União Europeia.

Se quiser manter as esperanças de ver a economia verde-loura esboçar algum tipo de reação até o final de 2012, contribuindo para uma pequena, porém não garantida, elevação do Produto Interno Bruto, o Palácio do Planalto terá de prorrogar a isenção de IPI para alguns setores, como o automobilístico e o de eletrodomésticos da chamada linha branca.

Com essa queda na arrecadação tributária, o governo já estuda uma forma de enganar os cidadãos com a maquiagem do superávit primário, resultados das contas do Estado excluindo o montante relativo ao juro e a atualização monetária da dívida pública. A ideia palaciana é deixar de fora do cálculo do superávit primário algumas despesas, que serão pagas e que retirarão dinheiro dos cofres do Estado. Um exemplo são as contas relacionadas às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que de igual modo serão pagas.

O que o governo da presidente Dilma Rousseff tenta é adotar o superávit primário estrutural, muito comum na Europa, o que tem permitido a muitos países apresentarem aos investidores uma situação enganosa da sua contabilidade. Fosse calculado da forma clássica, o superávit brasileiro correria o sério risco de inexistir, pois o inchamento da máquina pública nos últimos anos e a reconhecida incompetência dos governantes obrigam o Estado a gastar muito mais do que arrecada.

A situação fica ainda pior quando consideramos que a carga tributária nacional representa mais de um terço do PIB. Isso mostra que o governo do PT errou e continua errando ao resistir à necessidade de fazer mudanças estruturais e definitivas na economia, o que poderia dar uma reviravolta na realidade do País. Só não o fazem porque rasgariam o discurso oposicionista que levou o partido ao poder central, sem que os brasileiros sequer soubessem da realidade.

No contraponto, o grande erro que contribui para essa situação está na má vontade da imprensa brasileira de explicar de forma didática aos cidadãos a realidade dos fatos. Mesmo assim, o melhor é manter a esperança de que o Brasil um dia há de mudar.