Queen of Soul: Aretha Franklin anuncia aposentadoria dos palcos, mas continuará reinando nos estúdios

(*) Ucho Haddad

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Quem não dançou, rodopiou na sala ou esqueceu da vida debaixo do chuveiro ao som de “I Say a Little Pray” ou “Oh Happy Day” na voz de Aretha Franklin, uma das mais espetaculares vozes (mezzo-soprano) de todos os tempos. Nascida Aretha Louise, em Memphis (Tennessee), a Rainha do Soul anunciou sua aposentadoria dos palcos.

Porém, seus fãs – é uma enorme e impressionante legião – não devem se desesperar, pois Aretha, 74 anos (quase 75), continuará frequentando os estúdios de gravação. Além disso, essa aposentadoria se dará de forma gradual e ao longo deste ano. Ou seja, ainda há a chance de ver o vozeirão e o swing de Aretha em algum lugar do planeta, interpretando o melhor da Black Music.

A revelação foi feita durante entrevista ao jornalista Evrod Cassimy, de um canal de televisão regional pertencente à rede NBC, dos Estados Unidos. Entre os planos de Aretha Franklin para este ano está a gravação de um novo e último disco, o que deve acontecer em setembro próximo, e uma turnê correlata, mas em datas e locais selecionados.

Para a sorte do seu fã-clube, Aretha explicou que a aposentadoria não será completa. “Estou muito agradecida e satisfeita com a minha carreira, e com aquilo que conquistei até agora. Muito satisfeita. Mas não vou ficar sentada, sem fazer nada. Isso não seria bom”, disse a cantora, que manifestou o desejo de continuar a apresentar-se publicamente, em shows, “uma vez por mês, mas durante não mais do que seis meses por ano”.

Sobre o novo disco, Aretha revelou que será recheado por canções originais, a maior parte produzida por Stevie Wonder. “E Stevie, só há um, não é?!”, exclamou, referindo-se à singularidade do autor de tantos sucessos.

Para uma cantora de carreira marcada por dezenas de gravações e sucessos que fizeram milhões de pessoas dançarem, Aretha disse na entrevista que esta ansiosa para entrar no estúdio e soltar a voz. O disco, segundo ela, será variado em termos de composições. “Não estamos presos a uma só coisa”, disse ao referir-se ao próximo trabalho. A gravação será feita integralmente em Detroit. “Eu mantenho os meus negócios em Detroit, ou o mais perto de Detroit possível”, explicou.

O mais recente disco da Rainha do Soul é “Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics” (2014), com incríveis releituras de clássicos da música, entre as quais “Midnight Train to Georgia”, que ganhou o mundo na voz de Gladys Knight e “I’ll Survive”, possivelmente um dos maiores sucesso da incrível e saudosa Donna Summer.

Nos últimos anos, Aretha Franklin viu sua brilhante carreira ser comprometida por problemas de saúde. Em 2010, foi obrigada a cancelar uma série de concertos e submeteu-se a uma cirurgia no abdômen, mais tarde justificada pela necessidade de remoção de um tumor. Em 2016, a cantora foi obrigada a cancelar vários shows também pro questões de saúde.

Referência para muitos cantores da atualidade que não conseguiram compreender as lições da Rainha do Sul, até porque preferem a atuação performática em vez de cantar, Aretha é um furacão quando solta a voz, seja em músicas mais movimentadas, seja em baladas românticas. Dona de voz impressionante, Aretha Franklin, que se destaca também pela flexibilidade vocal e criatividade interpretativa, será sempre um ponto de referência para quem deseja alcançar o sucesso no universo dos trinados. Sua voz perdeu um pouco da expressividade nos últimos anos em decorrência dos problemas de saúde, mas ainda é um espetáculo à parte.

Escrever sobre a aposentadoria de Aretha é algo que jamais pensei que pudesse acontecer, pois sua carreira continua sendo uma âncora na minha incansável pesquisa sobre a Black Music, o soul, jazz e R&B. Tive o enorme privilégio de assistir a duas incríveis e inesquecíveis apresentações de Aretha Franklin. Uma em West Palm Beach, na Florida, e outra no Beacon Theatre, em Nova York, onde, no show “Divas” (VH1), Aretha dividiu o palco com Carole King, Gloria Estefan, Celine Dion, Shania Twain e Mariah Carey.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta. Fotógrafo por devoção, nas horas vagas dedica-se à pesquisa sobre a Black Music.

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