Refém do fisiologismo, Michel Temer já admite desfigurar projeto de reforma da Previdência

Absolutamente necessária, a reforma da Previdência começa a desmoronar por causa da pressão exercida por deputados e senadores sobre o governo do presidente Michel Temer, que já admite fazer modificações no projeto para agradar os parlamentares. Absolutamente desgastada junto à opinião pública, a classe política sabe que enfrentará sérias dificuldades nas eleições de 2018, quando muitos tentarão a reeleição ou concorrerão a outros cargos.

Com a lufada de corrupção que sopra no País, arrancar uma vitória das urnas será algo muito difícil, talvez impossível para alguns malandros com mandato. Por conta disso, os parlamentares decidiram cerrar fileira ao lado da população, que ainda não conseguiu perceber a importância da reforma da Previdência. Caso não seja levada a cabo, como prometeu o governo, a previdência terá sérios problemas de caixa em no máximo quinze anos, quando 60% do orçamento federal serão consumidos pelo pagamento de aposentadorias e pensões.

A reforma da Previdência é um dos pilares do anunciado projeto de retomada do crescimento econômico, mas eventual desfiguração prolongará a crise e reforçará a desconfiança dos investidores em relação ao País. Os brasileiros precisam saber que não há solução sem dose de sacrifício. Querer que o Estado cumpra seus deveres previdenciários de forma plena após mais de uma década de seguidas lambanças na economia é fechar os olhos para a realidade.

Ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha já admite que a reforma da Previdência corre um sério risco de não ser aprovada na Câmara dos Deputados, onde a maioria dos parlamentares já se declararam contra o projeto. Desse total de contrários à reforma, boa parte é da chamada base aliada. Ou seja, os deputados cobram cargos e favores do governo, mas no momento de votar matérias em favor do País pensam primeiramente nos seus interesses políticos e paroquiais.


Se a proposta de reforma da Previdência for alterada, como já admite o presidente da República, dentro de mais alguns anos uma nova mudança nas regras previdenciárias será necessária para adequar o fluxo de caixa aos pagamentos dos benefícios. A questão é simples e exige pouco conhecimento de aritmética: não se pode gastar mais do que se arrecada. A Previdência é uma pirâmide, onde na base estão os contribuintes e no topo os beneficiários, mas seu formato vem mudando de maneira assustadora nos últimos anos.

Michel Temer receberá em palácio o deputado federal Arthur Maia (PPS-BA), relator do projeto na Câmara, para conhecer as reclamações dos líderes e as sugestões de mudanças, principalmente as referentes às regras de transição entre o sistema atual e o novo.

O problema maior não está na descaracterização do projeto de reforma da Previdência, mas, sim, no efeito que essa mudança terá na equipe econômica do governo, diga-se de passagem, formada por profissionais de competência inquestionável. A depender do tamanho da alteração a ser promovida no projeto, integrantes da equipe econômica poderão deixar o governo.

Alguns mais exaltados dirão que essa pode ser a melhor solução para um país em crise, mas em economia não há mágicas nem milagres. Ou arrecada-se em quantidade suficiente para fazer frente aos gastos, ou é melhor reduzir drasticamente as despesas. A se manter o modelo atual de Previdência Social, o brasileiro deve estar preparado para conviver com um Estado que investirá cada vez menos. Isso significa a débâcle da nação. Mas cada qual sabe o que lhe convém.

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