Rendição incondicional

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Refinaria de Pasadena, Refinaria Abreu e Lima, Mensalão, Mensalão tucano, deputado petista voando em jatinho cedido por doleiro, cartéis de Metrô e trens metropolitanos? Há coisas piores, mais sangrentas. E as autoridades reconhecem a derrota: em declaração formal, o Governo paulista diz que não tem condições de controlar um criminoso condenado e preso numa penitenciária de segurança máxima. Pior: o Governo admite formalmente que a tal segurança máxima não é capaz de impedir a ação criminosa atribuída ao prisioneiro Marcola.

O documento oficial do Governo paulista, enviado ao juiz corregedor do Departamento de Execuções Criminais, Paulo Sorci, é assinado por dois secretários de Estado: Fernando Grella Vieira, da Segurança, e Lourival Gomes, da Administração Penitenciária. Textual: “(…) a Penitenciária de Presidente Venceslau não representou obstáculo a impedir ou ao menos dificultar que os sentenciados não cometessem falta grave (…)”. Ambos pedem que Marcola e outro presidiário, Barbará, sejam submetidos por até 60 dias ao RDD, Regime Disciplinar Diferenciado, pelo qual ficariam isolados dos demais presos e teriam de obedecer a normas disciplinares mais rígidas – o que vem sendo rejeitado pela Justiça.

Talvez tenham razão em pedir o RDD. É provável que a tenham. Mas confessar que o Governo não controla sequer sua prisão de segurança máxima é confessar que não há Governo. É por isso que criminosos podem, de dentro da cadeia, comandar bandidos que assassinam policiais e impõem o terror no Estado.

O crime em ação

Uma esplêndida reportagem de Roberto Cabrini no Conexão Repórter, do SBT, mostra que, no presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, os comandantes do crime organizado combinam tranquilamente suas próximas ações. E não correm sequer o risco de ser atacados por quadrilhas rivais: ali, têm a proteção do Estado.

Segundo o Ministério Público, o PCC de Marcola comanda três mil bandidos.

Vargas, lucros e perdas

Surpresa pela decisão do deputado André Vargas, do PT gaúcho, de desistir da renúncia ao mandato? Vargas fez o que foi melhor para ele: imaginou inicialmente que a renúncia faria com que seu julgamento na Comissão de Ética da Câmara Federal fosse cancelado – afinal, como cassar o mandato de quem já não teria mandato? A vantagem seria escapar da proibição de exercer mandatos eletivos nos próximos oito anos. Mas, ao saber que a Comissão de Ética o julgaria de qualquer jeito, e que não teria benefício nenhum se renunciasse, decidiu ficar na Câmara e defender-se exercendo o mandato (e recebendo).

Para o partido, é ruim; ou decide expulsá-lo (e, ninguém se iluda, Vargas tem aliados, silenciosos no momento, mas poderosos), ou não o expulsa, e arca com o desgaste de mantê-lo. Vargas até topa renunciar, mas o PT precisará oferecer-lhe uma saída honrosa.

E vai ter Copa

O depoimento de Nestor Cerveró, o ex-diretor da Petrobras que sabia tudo sobre a compra da Refinaria de Pasadena (e que elaborou o documento, criticadíssimo por Dilma, lido pelo Conselho de Administração), deixou o jogo empatado. Cerveró manteve todas as saídas abertas, defendeu-se sem incriminar ninguém. Extrair dele algo diferente exigirá convocá-lo para uma CPI; exigirá, antes, que a CPI seja instalada e funcione, o que leva tempo.

A Copa está aí. As empreiteiras e consórcios acusados são grandes, poderosos, têm bons amigos. E, como não disse Laurence Peter, todo suspeito é culpado até provar que é influente.

Questão de ficha

Rodrigo Mallman, assessor do deputado Alceu Moreira, do PMDB gaúcho, apontado nessa coluna como ficha suja, envia a seguinte nota: “A citação do deputado Alceu Moreira no cadastro do CNJ é pelo simples motivo de sua multa ter sido parcelada, ou seja, o nome só é excluído ao final do pagamento da última parcela. Estar citado lá não significa enquadramento na Ficha Suja”.

Registrado.

O gordo e o magro

Comentando a nota da coluna sobre o caso do professor José Luís de Sá da Silva, que passou no concurso público em São João da Boa Vista, SP, mas não pôde tomar posse porque é gordo, o excelente colunista carioca Aziz Ahmed, do jornal O Povo, conta a seguinte história: “Quando era ministro do Exército no Governo Sarney, o empertigado e elegante general Leônidas Pires Gonçalves foi fazer inspeção num quartel do Nordeste. Lá encontrou um major baixinho e barrigudo. Vaidoso e bravateiro, o general, na frente de toda a tropa, criticou o major, chamando-lhe a atenção por ser gordo. O major prestou continência, pediu licença e deu umas dez cambalhotas, uns 20 saltos mortais, fez acrobacias que revelavam excelente forma física e incrível mobilidade. Terminada a exibição, prestou continência novamente e sugeriu: “Excelência, agora é o senhor”.

Os patetas

Será que os responsáveis pela discriminação ao professor seriam capazes de enfrentar o mesmo concurso público no qual ele passou em quinto lugar?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.