Lupa na mão – Senador pelo PSB-RJ, Romário de Souza Faria quer que o Congresso Nacional examine os contratos secretos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), principalmente no que se refere ao envolvimento de empresas que operam a partir de paraísos fiscais em acordos com a seleção brasileira. O objetivo do senador fluminense é convocar uma audiência pública no Senado para pressionar a entidade.
De acordo com reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, em um dos contratos da CBF, de novembro de 2011, o ex-presidente da entidade, Ricardo Teixeira, cedeu para a empresa ISE os direitos exclusivos dos amistosos do Brasil até 2022. Porém, no endereço fixado pela ISE no contrato a indicação é apenas uma caixa postal na cidade de Grand Cayman, no conhecido paraíso fiscal caribenho, e fora do controle do Fisco.
Quem controla a ISE é o grupo DAG, um dos maiores do Oriente Médio e com bancos espalhados por vários países. A assinatura no contrato é de Mohyedin Saleh Kamel, um dos diretores da DAG. Em nota emitida após a reportagem, a CBF explica que não cabe a ela definir onde deve ser a sede da ISE e que, de fato, os investidores fazem parte do grupo DAG.
Romário acredita que explicações precisam ser dadas sobre o motivo pelo qual uma empresa num paraíso fiscal foi usada como agente do contrato. O Bom Senso F.C. também cobrou transparência da CBF. Porém, a entidade indica que tem todas suas contas no Brasil.
“Estas transações milionárias, com empresas de fachada em paraísos fiscais, como mostra o jornal é feita longe dos olhos da Receita Federal”, revelou Romário em sua página no Facebook. “Ou seja, evasão de divisas e sonegação fiscal. Uma quadrilha camuflada pelas cores da nossa bandeira, pelo nosso patrimônio cultural e solenemente festejada ao som do Hino Nacional”, alertou.
“Não há alternativa, ou esses caras são presos, ou eles continuarão sugando o futebol brasileiro como sanguessugas até sua morte definitiva. O que já não está muito longe”, finalizou o ex-jogador.
A ISE é a mesma que assinou outro contrato com o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell, por serviços durante os jogos da seleção. Nesse caso, empresas de fachada também foram registradas nos endereços estabelecidos pelos contratos. No total, a ISE transferiria para as empresas de Rosell um total de US$ 8 milhões, supostamente por trabalhos de marketing e assessoramento.
A empresa de Rosell estaria sediada em Nova Jersey, nos Estados Unidos, mas o endereço é de uma empresa que aluga salas de reuniões e uma caixa postal a quem contrata a empresa. Ou seja, a empresa também não existia.
A DAG e a ISE fazem parte de suspeitas. Num outro informe interno da consultoria PriceWaterhouseCoopers (PwC) sobre suspeita de pagamento de propinas no futebol, o nome de MohyendinKamel e da própria ISE aparecem como os principais responsáveis.
A auditoria indicou que a ISE era suspeita de ter pago, em operação de lavagem de dinheiro, US$ 14 milhões a Mohamed Bin Hammam, ex-candidato à presidência da Fifa, suspenso por denúncias de que tentou comprar votos. Bin Hammam, do Catar, teve o apoio de Ricardo Teixeira na votação para a FIFA. (Por Danielle Cabral Távora)