Sabe nada e é inocente

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Bem-aventurado é o cidadão comum, que embora tenha poucas possibilidades de reagir sabe muita coisa do que acontece neste país. Acompanha Pasadena, acompanha Abreu e Lima, acompanha o Mensalão, acompanha a gorjetinha. Saber tudo não se sabe, mas até onde nos cabe temos certa informação: alguns nomes já vazaram de político ladrão. É segredo de Justiça a delação premiada, mas há gente interessada em implicar inimigos, para parecer ilibada.

E, como nunca dantes na história desse país, quem não sabe tem certeza de estar mais informado do que um grande gatuno, por medo silenciado.

É só perguntar qualquer coisa a um desses corruptos notórios, com certidão de ficha suja em três vias autenticadas, com firma reconhecida. Por exemplo, como é que, com o dinheiro de seu salário, conseguiu comprar um Rolls-Royce blindado, último tipo, com maçanetas trabalhadas em ouro. Ele tem a resposta na ponta da língua: ganhou de um amigo de infância, amigo mesmo, sujeito bom, trabalhador, que ficou muito bem de vida fazendo faxina em casas de família. Dinheiro desviado? Imagine! Se houve desvio, que seja punido. Mas eu não sabia!

Pois é, o lá de cima, o que tá assim com os hômi, o cumpanhêro dos cumpanhêro, não sabia aquilo que todos nós sabemos. Talvez não tenha tempo de observar as coisas, exercendo sua função de guerreiro do povo brasileiro e obrigado a não se lembrar de eventos que já lhe trouxeram grande prazer. Mas observar para quê? Basta botar a culpa na zelite galeguinha de zóinho azul para sair livre.

Sonháticos e pesadeláticos

É delírio. Mas neste país o delírio impera. E nem se falou na delirante sorte que, embora aleatória, mostra surpreendente preferência por quem dela precisa para explicar aumentos patrimoniais.

Há carreiras que são uma loteria premiada.

MJST – os juízes sem teto

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, determinou que juízes federais que morem em cidades sem residência oficial disponível recebam auxílio-moradia. Digamos que o caro leitor seja transferido por seu empregador para outra cidade. Receberá auxílio para instalar-se, se a empresa for generosa, e depois pagará suas despesas.

Mas juiz é diferente. O Brasil tem hoje 1.471 juízes federais e 131 desembargadores federais, segundo o Anuário da Justiça Federal 2014.

Flagrantes da vida real

Todos os limites foram ultrapassados: assaltaram o cardeal-arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta, perto de sua casa. E não foi por desconhecimento: d. Orani estava com as vestes de cardeal. Com ele, foram assaltados o fotógrafo oficial da Arquidiocese, um seminarista e o motorista. Os três bandidos que assaltaram o carro reconheceram o cardeal; um deles pediu desculpas, mas continuou a ameaçá-lo com a arma. Roubaram o cordão, o crucifixo, a caneta, o celular, uma réplica do anel que d. Orani recebeu do papa Francisco, a batina do seminarista, o paletó e a mochila do motorista e a câmera. Agora, as coisas estranhas:

1 – Logo depois do assalto, os objetos roubados (exceto a câmera) foram recuperados. Aquilo que raramente acontece quando um cidadão comum é assaltado aconteceu, por coincidência quando o roubo atingiu uma personalidade.

2 – Destaque-se a eficiência da Polícia, que conseguiu encontrar, recuperar – e devolver! – os objetos roubados, numa cidade do tamanho do Rio, mesmo sem ter conseguido prender os assaltantes. Louve-se seu belo trabalho de busca.

E só se descobrirá por que os bandidos insistiram no assalto, para em seguida abandonar os objetos roubados, caso sejam presos. Mas ainda não o foram.

Punhal amigo

Já há algum tempo se suspeita de que o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, PDT, não é especialmente ativo no apoio à candidata de sua coligação, a ex-ministra Gleisi Hoffmann, PT. Fruet, que deixou o PSDB por divergências com o governador Beto Richa, tem tradição antipetista. Mas Gleisi sempre garantiu que Fruet está empenhadíssimo na campanha.

Agora já é possível medir o grau de comprometimento de Fruet com a candidatura de Gleisi: pôs dinheiro de seu bolso na campanha. Fruet doou para Gleisi, em dinheiro, a quantia de R$ 38,00 (trinta e oito reais). Agora, vai! Com a entrada do generoso doador, a campanha sobe de patamar e Gleisi, em terceiro lugar nas pesquisas, apanhando feio do governador Beto Richa (que pode ganhar no primeiro turno) e do ex-governador Roberto Requião, PMDB, talvez consiga ainda subir alguns pontinhos.

Inimigos íntimos

O PT de Curitiba rompeu com Fruet há meses, por causa de cargos. E a fidelidade aos aliados não é o ponto forte desta campanha, em lugar nenhum do Brasil. No Rio Grande do Sul, o peemedebista Pedro Simon e a pepista Ana Amélia apoiam Marina, enquanto o PMDB e o PP estão com Dilma. Em São Paulo, o governador Alckmin e seu candidato ao Senado, Serra, esforçam-se para demonstrar seu apoio a Aécio – dizem até que, outro dia, Alckmin nem cochilou durante o programa eleitoral de seu aliado. No Rio, Dilma largou o petista Lindinho e seu ex-ministro Marcelo Crivella, do PRB, e apoia o peemedebista Pezão, que disputa com o ex-petista Garotinho o primeiro lugar nas pesquisas.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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