Santo André, Mensalão do PT, Lava-Jato e Al Qaeda usaram o mesmo esquema de lavagem de dinheiro

policia_federal_10Quadrilha especializada – Em 2005, quando estourou o Mensalão do PT, o ucho.info afirmou, sem medo de errar, que os escândalos de corrupção com a chancela petista eram conexos e colocariam o Brasil na ladeira do banditismo político. Àquela altura, após divulgar com exclusividade as gravações do caso Celso Daniel, assunto que rendeu ao editor processos judiciais e ameaças, este site insistiu no tema, que agora começa a ser confirmado no escopo da Operação Lava-Jato.

No guarda-chuva do Mensalão do PT muitos escândalos surgiram com o passar do tempo, sempre com interligações escabrosas, como já destacamos acima. A pedra filosofal dessa onda de crimes começou em Santo André, palco de uma onda de desmandos que culminou com a morte do então prefeito Celso Daniel, assassinado de forma brutal por ter discordado da destinação dada ao dinheiro da propina cobrada de empresários da cidade do ABC paulista.

Muitos são os elos entre os escândalos que emolduraram a morte de Celso Daniel e a Operação Lava-Jato, mas um deles atende pelo nome de Nelma Kodama, doleira conhecida como a “dama do mercado” e que atuou fortemente em Santo André ao longo da gestão petista.

Durante delação já referendada pela Justiça Federal, o operador de câmbio Luccas Pace, réu no processo da Lava-Jato, acusou Nelma Kodama de lavar dinheiro da quadrilha do doleiro Alberto Youssef com a conivência de alguns bancos, entre eles Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil. Acontece que Kodama, que há muito trabalhava com Youssef, operou também para o esquema que tinha em um dos vértices o então deputado federal José Janene, já falecido e conhecido como o “Xeique do Mensalão”. Janene, poucos sabem, também tinha negócios que passavam por Santo André.

O esquema de Kodama utilizava empresas de fachada que supostamente atuavam no setor de exportação e importação. Por meio de operações fictícias de comércio exterior, grandes volumes de dinheiro eram movimentados com uma suposta legalidade. Esse esquema não é novidade e vem sendo utilizado há anos, sem que os órgãos competentes tenham fiscalizado em algum momento as referidas operações. Quem trabalha com comércio exterior sabe como é difícil e complexo o fechamento de um contrato de câmbio. Se a quadrilha integrada por Nelma Kodama atuava com facilidade, por certo contava com a conivência de funcionários mencionados.

A grande questão é que as grandes somas movimentadas pelo esquema criminoso de Kodama deveriam ter esbarrado no crivo do Banco Central, do Coaf e do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que nada fizeram para impedir a atuação bandoleira do grupo. Para que o leitor compreenda a irresponsabilidade desses órgãos, um saque acima de R$ 10 mil na boca do caixa é imediatamente comunicado ao Coaf. Se isso não ocorreu no caso em questão é porque há muito mais envolvidos no esquema do que se imagina.

Santo André, Mensalão e Al Qaeda

Operações fictícias de comércio exterior foram muito utilizadas por casas de câmbio da chamada tríplice fronteira (Brasil – Argentina – Paraguai) e de São Paulo para o envio de dinheiro sem procedência para a Al Qaeda, grupo terrorista criado pelo saudita Osama bin Laden. Na capital paulista, uma operação policial detectou irregularidades em uma casa de câmbio, mas o escândalo acabou abafado depois do pagamento de polpuda propina, que, segundo apurou o ucho.info à época, foi de US$ 700 mil.

Chegar às casas de câmbio que facilitaram as remessas de dinheiro para a Al Qaeda não é tarefa das mais difíceis. Basta que as autoridades façam uma busca nos registros do escândalo do Banestado, cuja operação policial flagrou a remessa ilegal de quase US$ 20 bilhões para o exterior, mas dados levantados pelo ucho.info dão conta que o valor que saiu ilegalmente do País pode ter alcançado a incrível marca de US$ 60 bilhões.

O modus operandi foi “exportado” para o grupo de Santo André e para a quadrilha comandada por Janene e Alberto Youssef, que passaram a operar de forma intensa na remessa ilegal de dólares para o exterior. Do guarda-chuva criminoso de Youssef fazia parte a também doleira Maria de Fátima Stocker, presa na Espanha e enviada para Roma sob a acusação de ser o “trem pagador” da cocaína comprada na Bolívia pela ‘Ndrangheta, grupo mafioso que atua na Reggio Calábria, no sul da Itália.

Stocker usava o esquema criminoso de Youssef para fazer os pagamentos a mando da ‘Ndrangheta, operação que foi descoberta durante operação da Polícia Federal no porto de Santos, no litoral paulista, que apreendeu 3,7 toneladas de cocaína, parte de um carregamento que seria enviado para a Europa, África e Cuba.

Visitantes ilustres, clientes complicados

Nos vários escritórios de Alberto Youssef localizados na cidade de São Paulo, o entra e sai de políticos sempre foi a tônica do cotidiano. O movimento era maior no escritório considerado como quartel-general da operação criminosa, onde Youssef dava expediente diário e comandava todas as ações da quadrilha.

Entre os muitos políticos que foram flagrados pela Polícia Federal, por meio de registros da portaria e câmeras de segurança, está o advogado João Graça, um dos próceres do PDT do Paraná, com forte atuação na região de Londrina e homem de confiança do atual ministro do Trabalho, Manoel Dias, a quem serviu como assessor especial na pasta até ser fisgado pelo anzol da Lava-Jato.

Nos registros da Operação Lava-Jato o nome de João Graça aparece não apenas como visitante assíduo do escritório de Youssef, mas também e principalmente como defensor do doleiro e também de Nelma Kodama. Graça, que deixou o Ministério do Trabalho quando seu nome foi citado como frequentador do bunker do doleiro, pode ter a vida ainda mais vasculhada depois da delação premiada de Alberto Youssef. Isso porque o doleiro já prometeu revelar nomes de políticos envolvidos no esquema.

Tentáculos da quadrilha

O esquema idealizado por José Janene e operado por Alberto Youssef não ficou apenas na seara da Petrobras, cujos cofres foram sangrados com a ajuda criminosa de Paulo Roberto Costa. Abusado como político e ousado nos negócios, Janene estendeu os interesses da quadrilha para outros setores do governo, como o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), e também para empresas do setor de geração de energia, as chamadas termelétricas.

O projeto de Janene, que contou com o apoio de Carlos Alberto Pereira da Costa e a participação de Nabil Harajli, homem de origem árabe que atualmente mora e trabalha em Detroit (EUA). Presença constante na casa de Janene, em Londrina (PR), assim como nas empresas cooptadas pelo então deputado federal, Harajli foi apresentado, certa vez, como um empresário árabe interessado na geração de energia elétrica no Brasil. Tudo não passou de uma enorme farsa montada por Janene, que acabou desmoronando depois das primeiras denúncias que desaguaram na Operação Lava-Jato.

Até hoje, Nabil Harajli ainda não foi importunado pelas autoridades brasileiras, pois um interrogatório feito como manda o figurino poderia esclarecer as muitas ramificações da quadrilha. Basta que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal localizem Harajli e façam-lhe as devidas perguntas, pois o suposto investidor no setor de energia tem muito a falar.

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