Sem pulso e coragem, Temer vê o governo transformar-se em uma espécie de casa de Noca

michel_temer_1022

Para quem classificou a matança de 56 presidiários como “acidente pavoroso”, a frouxidão do presidente da República, Michel Temer, é o que se pode chamar de “café pequeno”. Passados quatro dias da maior e mais sangrenta rebelião no sistema penitenciário nacional, depois do “Massacre do Carandiru” (1992), Temer assistiu passiva e silenciosamente a hilária e enfadonha entrevista coletiva do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.

Ainda sem justificar com ações e decisões a sua nomeação para a pasta, uma das mais importantes do governo federal, Moraes mentiu ao afirmar aos jornalistas que o pedido de ajuda feito pela governadora de Roraima, Maria Suely Silva Campos, em outubro passado era para auxiliar na segurança pública estadual, não para reforçar a segurança nos presídios roraimenses.

Vencidas as quase duas horas de uma entrevista coletiva marcada por promessas e bamboleios discursivos, Alexandre de Moraes acabou desmentido pelo governo de Roraima, que apresentou documentos endereçados ao titular do Ministério da Justiça em que solicitava o envio de tropas da Força Nacional de Segurança para ajudar na segurança do sistema penitenciário local.

Sem ter como manter a mentira no ar, Moraes foi obrigado a concordar com as declarações da governadora Suely Campos à imprensa, assunto que de chofre era motivo mais que suficiente para a demissão do ministro da Justiça. Algo que Michel Temer não fez por falta de pulso e coragem.

A desculpa de que suscetibilidades não podem ser feridas no Congresso Nacional por conta da aprovação de medidas de interesse do governo é conversa fiada, pois a população não pode ficar refém do crime organizado.


Não obstante, até hoje o presidente da República não conseguiu dar uma explicação convincente sobre a nomeação de Alexandre de Moraes para o Ministério da Justiça. Aliás, Moraes não é a pessoa mais indicada para criticar facções criminosas, pois nos tempos de advocacia defendeu uma cooperativa de transportes da cidade de São Paulo, a Transcooper, investigada pela Polícia Civil paulista por supostas ligações com o Primeiro Comando da Capital, o PCC, que hoje rivaliza com a Família do Norte.

Porém, a frouxidão que acompanha Michel Temer não parou por aí. O presidente da República não teve pulso para demitir de forma sumária o então Secretário Nacional da Juventude, Bruno Júlio, que defendeu o massacre ocorrido no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus.

Em entrevista ao jornalista Ilimar Franco, de “O Globo”, Bruno falou em tom de deboche, dando destaque à sua anorexia intelectual: “Eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de polícia, né? Tinha era que matar mais. Tinha que fazer uma chacina por semana”.

O Palácio do Planalto esperou algumas horas até que Bruno Júlio apresentasse sua carta de demissão, quando na verdade o presidente da República deveria tê-lo repreendido publicamente e demitido em seguida. Essa dependência de Temer em relação ao Parlamento ainda causará um enorme dano ao País.

apoio_04