Endereço certo – “Para bom entendedor meia palavra basta”. Eis o que prega um dos célebres ditados populares, que sugere não ser necessária explicação em excesso para se compreender determinado fato. E esse mantra encaixa com perfeição no silêncio do ex-ministro e mensaleiro condenado José Dirceu de Oliveira e Silva, que permaneceu em silêncio em depoimento à Polícia Federal e diante de integrantes da CPI da Petrobras, que foram a Curitiba ouvir alguns dos presos pela Operação Lava-Jato.
Acompanhado do seu advogado, Roberto Podval, o ex-chefe da Casa Civil cumpriu a promessa de permanecer calado, o que na opinião do UCHO.INFO é mais um recado cristalino para a cúpula do Partido dos Trabalhadores e do governo petista de Dilma Rousseff.
Acusado de envolvimento no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história e de ter usado a própria empresa, a JD Consultoria e Assessoria, para camuflar as propinas recebidas a partir de contratos superfaturados da Petrobras, Dirceu continua mantendo a decisão de não aderir à delação premiada, mas isso pode mudar com o passar do tempo. Semanas atrás, logo após a prisão do petista, este site fez uma análise sobre a possibilidade de José Dirceu contar o que sabe sobre o esquema de corrupção.
Um dos fatores que poderiam levar Dirceu à colaboração premiada é a sua filha mais nova, Maria Antônia, por quem o ex-ministro tem verdadeira adoração. O fato de estar alijado do convívio diário com a filha poderá levá-lo a repensar a decisão de manter-se calado. Outro ingrediente poderá ajudar em eventual negociação de delação é a idade de José Dirceu, que no próximo ano completará 70 anos. Considerando que a estimativa média de vida do brasileiro é de 74,5 anos, Dirceu tem muito a pensar.
Ciente de que uma condenação no âmbito da Operação Lava-Jato, cuja dosimetria não o favoreceria, comprometendo seus planos futuros, pessoais ou políticos, Dirceu por certo deve analisar a possibilidade de revelar detalhes do esquema, mesmo que o alcaguete não seja uma figura aceita com facilidade no mundo das causas radicais.
Um dos alvos principais do “recado” de José Dirceu é o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o lobista Lula, a quem o mensaleiro serviu como ministro da Casa Civil. Lula e Dirceu estão rompidos desde as sentenças condenatórias da Ação Penal 470 (Mensalão do PT), ocasião em que o ex-comissário palaciano passou uma temporada encarcerado no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
José Dirceu não perdoou o abandono por parte da cúpula do PT, situação que ficou clara em recente declaração do ex-ministro, quando este afirmou que Lula e Dilma são “farinha do mesmo saco”. Nos bastidores, a pessoas muito próximas, Dirceu chegou a dizer que estava preparado para enfrentar de seis a sete meses de prisão, o que permitiu concluir que uma eventual delação seria precedida de inúmeros recados transversos a Lula e sua caterva.
