Todos reconheceram que a África do Sul estava diante de uma virada histórica quando o então chefe de governo, Frederik Willem de Klerk, anunciou, em 1990, a libertação de Nelson Mandela. Símbolo da luta da população negra contra o racismo, ele se tornara, ao longo dos 27 anos que passou na cadeia, o prisioneiro mais famoso do planeta e foi libertado em 11 de fevereiro daquele ano.
Nelson Rolihlahla Dalibhunga Mandela nasceu em 18 de julho de 1918. Seu pai era chefe da tribo Thembu, do povo xhosa. Carinhosamente chamado de Madiba pelos sul-africanos, Mandela começou a estudar Direito na universidade para negros de Fort Hare, mas foi expulso por liderar uma greve estudantil. Em Joanesburgo, estagiou num escritório de advocacia e fez um curso de Direito por correspondência. Em 1942, graduou-se pela Universidade de Pretória.
Mandela ingressa no ANC
Já nos tempos de estudante, Mandela era engajado politicamente e ingressou cedo no Congresso Nacional Africano (ANC). A associação se empenhava em reivindicar direitos e melhorar a qualidade de vida da maioria negra oprimida pelos brancos na África do Sul – a princípio, através de contatos com lideranças políticas e cartas com pedidos de apoio; mais tarde, organizando greves e manifestações.
Em 1952, Mandela abriu o primeiro escritório de advocacia para negros de Joanesburgo, uma ousadia tremenda, num país em que o regime diminuía a cada dia os direitos da população de cor. A situação política interna escalou de tal maneira que, em 1960, a polícia abriu fogo contra os que participavam de uma grande manifestação em Shaperville. Saldo da violência: 69 mortos e centenas de feridos. O governo decretou estado de exceção e mandou prender vários militantes, entre os quais Nelson Mandela.
De prisão em prisão
O ANC e outros partidos e associações que criticavam o regime foram proibidos. Em dezembro de 1961, Mandela ajudou a criar a ala militante Lança da Nação, tornando-se o primeiro comandante da organização clandestina especializada em sabotagens. Em 1962, saiu escondido do país para pedir apoio, principalmente financeiro, à sua causa.
Ao retornar à África do Sul, ainda no mesmo ano, foi preso e condenado a cinco anos de prisão por participar da organização de protestos. Em outubro de 1963, Mandela e outros sete réus foram condenados à prisão perpétua, acusados de terem organizado 150 atos de sabotagem. Até 1981, ele esteve na temida prisão de Robben Island, perto da Cidade do Cabo. Mais tarde foi transferido para o presídio de alta segurança de Pollsmoor.
Depois de se tratar de uma tuberculose durante algumas semanas numa clínica, Mandela passou a viver numa casa, no pátio de outra prisão perto da Cidade do Cabo. Nos 27 anos em que ficou preso, a resistência dos negros sul-africanos contra o apartheid foi se tornando cada vez mais violenta. A comunidade internacional também aumentou a pressão contra o governo sul-africano através de sanções e boicotes.
Início das reformas na África do Sul
Ao assumir o governo em 1989, Frederik de Klerk reconheceu que reformas eram inevitáveis, para que o país não submergisse na guerra civil e no caos. Em fevereiro de 1990, cancelou a interdição do ANC, revogou algumas leis racistas e libertou Nelson Mandela. Os anos seguintes ainda foram bastante confusos, com a minoria branca tentando manter a supremacia, semeando a discórdia entre os grupos negros.
Até que, nas primeiras eleições democráticas em 1994, o ANC recebeu 60% dos votos e Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul, cargo que ocupou até 1999. Em 1993, ele e Frederik de Klerk receberam o Prêmio Nobel da Paz “por seu engajamento em prol da conciliação e por sua coragem e integridade”. Mandela morreu aos 95 anos em 5 de dezembro de 2013. (Com Deutsche Welle)