Vacina contra a dengue já pode ser vendida no Brasil, mas preço final pode chegar a R$ 400

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Conforme anunciou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na segunda-feira (25), a Dengvaxia, primeira vacina contra a dengue disponível no Brasil, custará de R$ 132,76 a R$ 138,53, de acordo com alíquota de cada estado.

O medicamento já pode ser comprado por hospitais e clínicas particulares. Contudo, o consumidor deverá desembolsar um valor adicional, que varia em cada estabelecimento, pela aplicação do produto, como explica a agência. Estima-se que o preço final fique entre R$ 300 e R$ 400, valor elevadíssimo se considerados o rendimento médio do brasileiro e a grave crise econômica por que passa o País.

O Ministério da Saúde afirmou que não há previsão de compra da vacina para o Sistema Único de Saúde. Serão feitos estudos de custo para a distribuição nacional e, no caso de viabilidade, a vacina poderá ser distribuída gratuitamente aos pacientes. Entretanto, o estado do Paraná já anunciou que deverá comprar 500 mil doses da vacina.

Produzida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur, a Dengvaxia é uma imunização recombinante tetravalente, para os quatro sorotipos existentes da doença. Poderá ser aplicada em pacientes de 9 anos a 45 anos, que deverão tomar três doses subcutâneas com intervalo de seis meses.

Na própria bula da vacina o laboratório informa que a Dengvaxia não protege 100% dos pacientes. Por isso, a vacinação não substitui as recomendações anteriores do Ministério da Saúde.

A aprovação da vacina pelo governo brasileiro ocorreu em dezembro do ano passado. Os testes apontaram redução de 81% das internações e 93% dos casos graves. De acordo com o laboratório Sanofi Pasteur, em média 66% dos pacientes com os quatro sorotipos ficaram imunizados – 2 em cada 3 pessoas.

A vacina foi produzida com um vírus vivo atenuado e possui em sua estrutura o vírus vacinal da febre amarela, que lhe garante estabilidade. Os testes envolveram 40 mil pessoas em 15 países, em uma pesquisa clínica que resultou em 25 estudos. No Brasil, cerca de 3.500 pessoas de cinco cidades participaram das etapas de testes.

Segundo o médico epidemiologista João Bosco, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) que participou dos estudos sobre a vacina, “a forma como a gente vinha fazendo prevenção de dengue era a mesma há anos. É a primeira vez que temos algo diferente”.


A pequena variação de preço se deve a diferenças de alíquotas de imposto em cada estado. A determinação do preço foi feita pelo Comitê Técnico Executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), composto por representantes dos ministérios da Fazenda, Saúde, Justiça, Desenvolvimento e Casa Civil, sendo que a Anvisa exerce a função de Secretaria Executiva da Câmara.

Os governos estaduais e o federal combatem o vírus com campanhas de prevenção nas residências, pedindo que os moradores evitem deixar água parada. A dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a Zika e a chikungunya.

Em junho, o governo do Paraná já anunciou que fará campanha de vacinação contra a dengue utilizando o produto da Sanofi Pasteur. De acordo com o laboratório, o estado deverá receber 500 mil doses – 1 milhão de vacinas estão armazenadas em São Paulo desde a aprovação.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, a vacina deve trazer benefícios do ponto de vista individual, mas a possível adoção da vacina de dengue pelo sistema público de saúde deve levar em conta fatores como a incidência da dengue nas diferentes localidades, a capacidade de se conquistar uma boa adesão e o custo da vacina.

“Com certeza, do ponto de vista individual, a vacina tem benefícios e acredito que para grande parte das regiões onde a doença é endêmica, ela pode ter um impacto”, diz.

Um dos maiores desafios em relação a uma possível vacinação em massa, segundo Isabella, deve ser em relação à adesão. A vacina da Sanofi é destinada a pessoas de 9 a 45 anos de idade. “Esta é uma faixa-etária superdifícil de vacinar. Seria preciso avaliar qual a melhor estratégia para a campanha. Não seria um programa de fácil implantação”.

De acordo com o laboratório, a vacinação em adolescentes deve ser o maior desafio. Ricardo Feijó, professor adjunto de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que os jovens não têm propensão a se vacinar, que as maiores taxas de adesão ainda estão entre as crianças. “Ele [adolescente] tem a sensação que é de baixo risco a doenças”.

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