Vírus ebola ameaça a realização da Copa Africana de Nações

(Reuters)
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Cartão vermelho – A mensagem vinda do Egito foi bem clara: ou a Costa do Marfim sedia a partida eliminatória da Copa Africana de Nações contra Serra Leoa ou a seleção do país será desclassificada do torneio, antes mesmo do início da fase de grupos.

A ordem partiu da Confederação Africana de Futebol (CAF), com sede no Cairo, e deu resultado. Na última terça-feira (2), o Conselho de Segurança Nacional da Costa do Marfim anunciou que a partida eliminatória contra Serra Leoa será realizada, como planejado, no próximo sábado (6) na capital Abidjan.

Há poucos dias do início das eliminatórias da Copa Africana das Nações, que começa na sexta-feira (5), o episódio revela o crescente medo de que jogadores e torcedores das 28 seleções participantes contraiam o vírus ebola. No início de agosto, a seleção de Seychelles cancelou a partida contra Serra Leoa e desistiu do torneio.

A Costa do Marfim faz fronteira com os países mais afetados pela epidemia: Libéria, Guiné e Serra Leoa. Desde o início do surto, mais de 1,5 mil pessoas já morreram de ebola na região, e não se sabe exatamente a quantidade de infectados. Mas, aparentemente, a perspectiva de participar de um grande campeonato de futebol no Marrocos acabou sendo mais importante para o país.

Jogadores e torcedores em trânsito

A atual campeã, a Nigéria, também já sentiu quão grande é o medo do vírus ebola. Após casos da doença terem sido identificados em Lagos, a maior cidade do país, a seleção de Lesoto desistiu de viajar para a Nigéria para a partida contra a seleção local.

“E isso que o jogo seria realizado em Kaduna, que fica a milhares de quilômetros de distância de Lagos”, comenta o jornalista esportivo nigeriano Shehu Saula. Mesmo assim, ele compreende a decisão. “Nós estamos falando de medo. Jogadores e torcedores que viriam de outros países têm medo de pegar ebola”, diz.

No início de agosto, a CAF transferiu todos os jogos que seriam realizados nos países atingidos pelo ebola para Gana. “Felizmente, esses países entendem por que essas medidas foram tomadas”, afirma Erick Mwanza, porta-voz da confederação.

“Claro que os jogadores sabem que eles perdem a vantagem de poder jogar em casa com a presença do público nacional”, comenta. Mas a proteção também é do interesse dos atletas. Muitos jogadores da Guiné e de Serra Leoa jogam no exterior, como o guineano Ibrahima Traoré, que atua no Borussia Mönchengladbach, da Alemanha. Ele e os demais atletas ficariam expostos ao risco da infecção caso jogassem na terra natal.

Futuro da Copa Africana

A Copa Africana de Nações começa daqui a cinco meses no Marrocos. Saula acredita que o campeonato pode estar em perigo caso a epidemia de ebola não seja controlada. “É uma situação mortal. Ou controlamos a doença ou teremos de organizar um torneio ao qual muitos torcedores não poderão comparecer, e assim estádios ficarão vazios”, afirma.

Para o jornalista, a CAF precisa adotar medidas drásticas para garantir a realização da Copa no Marrocos. O dirigente esportivo nigeriano Saidu Tanimu cita alguns exemplos de medidas que poderiam ser aplicadas. “A Nigéria deve examinar todas as pessoas que desejam viajar para a Copa e não deixar ninguém que apresente sintomas da doença sair do país. Além disso, controles devem ser realizados nos aeroportos do Marrocos, e suspeitos de estarem infectados devem ser proibidos de entrar no país”, exemplifica.

Isso será um enorme esforço para o Marrocos. Mas o país pode estar diposto a assumir essa tarefa, pois tem mostrado grande solidariedade com os países atingidos pelo ebola. A companhia aérea estatal Royal Air Marocco (RAM), por exemplo, foi instruída a não reduzir seus voos para esses países – um caso único em todo o mundo. (Deutsche Welle)

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