(*) Gilmar Corrêa
Nas duas últimas semanas tive o privilégio e a sorte de conseguir emprego para três amigos. Falo em privilégio porque encontrei a oportunidade de indicar e a sorte de me antecipar a uma imensa fila de desempregados. Mas não basta a indicação, o privilégio e a sorte. É preciso que o desempregado tenha as qualificações necessárias e, por isso, me senti orgulhoso. Meus amigos, na verdade três amigas, foram qualificadas e aprovadas.
E, de brincadeira, perguntei hoje a uma colega de trabalho se por essas três indicações bem sucedidas subiria um degrau no caminho do céu. A questão não é ser santo ou candidato a tal, mas será que isso não vale na hora da gente conversar com o Poderoso quando tudo se apaga e tudo renasce?
Relacionei o emprego como uma boa ação, porque é muito difícil conseguir uma vaga nesse mundo de competitividade capitalista. O funil está cada vez menor e mesmo os mais qualificados sempre precisam de uma mãozinha de alguém, da sorte de chegar na frente ou do tempo necessário para se preparar para um concurso público.
A situação para quem procura emprego ou para quem quer ter uma oportunidade melhor no mercado de trabalho ficou bem pior desde o ano passado, quando eclodiu em setembro a crise financeira mundial a partir da América do Norte. Naquela ocasião nosso presidente-metalúrgico disse que e crise era igual a uma marolinha, cuja equação o Brasil resolveria tirando de letra. Não foi bem isso que aconteceu.
Tivemos uma drástica queda no nível de emprego, e no final do ano contabilizamos perdas de cerca de 600 mil postos. Seria o suficiente para que a França, por exemplo, entrasse em parafuso. Na terra de Napoleão, 250 mil trabalhadores perderam seus empregos e bastou para que centenas de milhares de pessoas fossem às ruas pedir providências.
A pressão no Brasil ficou nos gabinetes. Nossos representantes sindicais estão alinhados com o governo ou até pior, empregados na estrutura pública. Em outros tempos, teríamos passeatas, protestos e manifestações. Até no Dia do Trabalhador, data própria para manifestações do gênero, nossas praças públicas não assistiram à nenhuma manifestação. O protesto, a indignação e até o medo foram trocados por shows, sorteio de carros e “cervejada”. Nada contra as três coisas, mas bem que poderia ter espaço para o velho e bom sindicalismo.
Na quarta-feira, dia 27, o presidente do Banco Central que tem status de ministro, Henrique Meirelles, disse que o nível de emprego se situou nos últimos meses em 0,4%. É muito pouco para um país emergente como o nosso. Meirelles previu que o número de postos de trabalho, ao final de 2009, será muito semelhante aquele registrado em 2007.
É a tal da “recessão técnica”, a que o ministro da Fazenda Guido Mantega anunciou para os senadores no dia seguinte. Pouco a pouco a equipe econômica do presidente-metalúrgico acaba falando a verdade. No entanto, há uma dúvida sobre quem esteja certo, se Meirelles com suas previsões pessimistas ou Mantega, que afirmou aos senadores que “o resultado obtido da soma das demissões e admissões formais será positivo para o país”.
O ministro da Fazenda afirmou: “Tivemos uma queda forte do PIB no último trimestre de 2008. Devemos ter crescimento negativo no primeiro trimestre deste ano. Mas não sabemos de quanto. Já sabemos que houve. Com isso, ainda não dá para concluir que temos recessão”.
Pelo sim ou pelo não, ao longo desse ano será muito difícil de contar sempre com a sorte ou com a oportunidade para indicar alguém para uma vaga de emprego. Serão tempos difíceis. E nada impede que o próximo a implorar uma indicação não seja eu. O consolo é que poderei ajudar o meu “padrinho” a subir mais um degrau rumo ao paraíso.