Oportunismo desnecessário –
Há uma clara dicotomia no cenário de dor e consternação provocado pelo desaparecimento do avião que fazia o voo AF 447, Rio-Paris. Abusando do messianismo discursivo apenas para reforçar sua posição política no plano internacional, em especial na América Latina, o governo brasileiro tem aspergido falsas previsões e promessas a respeito da tragédia.
De chofre coube ao presidente Luiz Inácio afirmar que “um país que encontra petróleo a 6 mil metros de profundidade é capaz de encontrar um avião a dois mil metros”. Bobagem, pois uma coisa nada tem a ver com outra, a não ser que Lula esteja brincando de “20 mil léguas submarinas”.
Depois foi a vez de Nelson Jobim, o ex-ministro do STF que, no comando da Defesa nacional, garantiu que os corpos das vítimas dificilmente seriam encontrados. Para desmenti-lo, a Marinha brasileira buscou, até ontem, sobreviventes e corpos das tais vítimas. Mas Jobim não se deu por satisfeito. Como se fosse dono da melhor e mais eficiente bola de cristal do País, o ministro afirmou, sem medo de errar, que as peças encontradas no Atlântico eram do Airbus da Air France. Errou feio, pois tudo aquilo não passava de lixo marítimo.
Atitudes irresponsáveis como essas viciam os familiares das vítimas na manutenção da esperança. Diz a sabedoria popular que a esperança é a última que morre, mas nesse caso as 228 pessoas que estavam a bordo do AF 447 despediram-se da vida bem antes. Tratar de assuntos tão complexos e trágicos exige responsabilidade, o que tem faltado costumeiramente ao governo petista.
Ministro de Assuntos Exteriores da França, Bernard Kouchner reuniu-se na manhã de ontem (4), no Rio de Janeiro, com os familiares das vítimas do voo AF 447. Após o encontro, Kouchner descartou a possibilidade de o governo francês estar omitindo informações sobre o trágico acidente. “Nós não estamos escondendo nada. E não temos razão para esconder” disse o ministro aos jornalistas.
Antes do encontro com Kouchner, Nelson Faria Marinho – pai de Nelson Marinho, uma das vítimas do AF 447 – que coordena uma comissão de familiares, afirmou que o governo francês estaria dificultando as informações em função das graves circunstâncias do acidente. “Acho que eles sabem mais do que estão passando. Tenho o direito de cobrar, eu perdi um filho”, afirmou Marinho.
Fato é que quando alguém se propõe a coordenar um grupo de familiares de vítimas de acidente aéreo, por exemplo, o quesito emoção deve ser deixado de lado. Do contrário, a razão será prejudicada. Resumindo, é preferível aguardar um pouco mais para obter uma informação concreta e balizada, do que embarcar nas elucubrações de um governo conhecidamente fanfarrão.