União Nacional dos Estudantes mostra no 51º. Congresso da entidade que o movimento estudantil não mantém a mesma essência de antes –
(*) Gilmar Corrêa
Por mais que o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulcci, afirme que a “UNE não se confunde com o Estado”, o 51º. Congresso da entidade, que acontece até o próximo domingo, em Brasília, não nega a relação íntima que a União Nacional dos Estudantes tem com o Palácio do Planalto.
Orçado em aproximadamente R$ 2 milhões, segundo cálculo da própria presidente da UNE, Lúcia Stumpf, o evento exibe patrocínio de empresas estatais (Correios e Petrobras), de programas governamentais (Pronasci) e a própria logomarca do governo (“Brasil – um país de todos”). O “Brasil” colorido ficou estampado no púlpito, usado para um longo discurso de Lúcia e do presidente Lula.
A presença de Lula da Silva quebrou paradigmas da UNE, que completa neste ano 72 anos. Foi o primeiro presidente do Brasil a estar presente num congresso do gênero, mas não o único chefe de Estado. Há duas décadas, falou para milhares de estudantes universitários o ditador de Cuba, Fidel Castro, quando o discurso de esquerda ainda embalava a juventude em busca de utopias. Mas, para Lula, sua histórica presença na reunião da UNE foi de pouca coragem se comparada com um encontro que teve com os reitores das universidades federais.
Nesta quinta-feira, o congresso da UNE também mostrou que mudou, a exemplo dos antigos líderes estudantis que, até há pouco tempo, entoavam gritos de “abaixo a ditadura”. As velhas músicas de protesto deram lugar a pop rock americano e a plateia bateu palmas para o presidente da República, que sempre foi para os universitários o representante do atraso e do incerto. Só o que não mudou foi a ideia de confraternização e as festas. Talvez por isso, muitos universitários cochilavam sentados nas poltronas, cansados de uma madrugada intensa.
Aos gritos de “quem gosta de Lula, pula”, centenas de estudantes no auditório principal do Centro de Convenções Ulysses Guimarães bateram palmas e gritaram palavras de ordem: “Lula, ê ê, novo brasileiro”. Foi a recepção para o showman do Planalto. Da parte de Lula da Silva, um discurso longo e no melhor estilo Fidel Castro, recheado de retórica sobre o valor da educação e, como sempre, houve momento para um escorregão. Disse que a “revolução” (não a Primeira Guerra Mundial) teria beneficiado “muito mais” os países do Leste Europeu.
Aqui um parêntese: é o PCdoB, com seu discurso de comunista da Albânia, que domina há décadas a UNE. E poderá renovar sua hegemonia no próximo domingo, com a eleição à presidência de Augusto Chagas, que já dirigiu a União Estadual dos Estudantes de São Paulo. Votam 5.270 delegados, que escolhem 81 diretores, e o mandato é de dois anos. Por lá, passou gente importante da vida política brasileira, como José Dirceu, os ministros Orlando Silva (Esportes) e Juca Ferreira (Cultura), o prefeito de Nova Iguaçu (RJ), Lindberg Farias, pré-candidato ao governo fluminense, e a deputada Manuela D’Avila (PCdoB-RS).
Além de Lula, marcaram presença no evento desta quinta-feira alguns deputados e ministros do PCdoB e poucos do PT, além da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) que, para desgosto dos entusiastas palacianos, não arrancou aplausos. Mesmo a ministra sendo a mascote do presidente-metalúrgico em todos os eventos, o nome precisa ser conhecido para dar alguma chance de vitória nas eleições presidenciais do ano que vem.
Lula da Silva afirmou no seu discurso que as instituições privadas e o governo precisam ter uma relação civilizada e democrática, mas que, na hora em que elas não concordam, podem ir às ruas. “Não tem problema, e isso vale para qualquer instituição”, disse o presidente. Ele citou a CUT como exemplo, mas, como a UNE, está ligada ao governo por interesses políticos e favores financeiros. A UNE prometeu passeata “em defesa do petróleo e da Petrobras” pela Esplanada dos Ministérios, numa manifestação acompanhada pelas centrais sindicais e representantes do MST, cujo movimento também é patrocinado pelo governo federal.