Diretor de Relações Institucionais do IBPT, Fernando Steinbruch acredita que o governo investe mal o muito que arrecada com impostos –
(*) Everton Amaro
Queixa recorrente entre a maioria dos brasileiros, a crescente carga tributária está pesando cada vez mais no bolso dos cidadãos e no orçamento das empresas. Em momentos de crise financeira, quando a ameaça aos cofres do governo passa a ser uma realidade, anúncios sobre reajustes para cima ou para baixo de determinados tributos tomam conta do noticiário.
Nesse contexto, tributaristas tecem críticas ao governo, que no só ano passado chegou à marca de mais de R$ 1 trilhão arrecadados. Para o diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Fernando Steinbruch, há uma injustiça na maneira como os impostos são cobrados, pois os cidadãos com baixa renda pagam o mesmo valor que os mais ricos. “O Sistema Tributário Brasileiro é injusto, pois ele tributa fortemente o consumo em detrimento da renda, patrimônio e ganhos de capital. De tudo que se arrecada em tributos no país, 49% é proveniente da tributação sobre o consumo”, afirma Steinbruch.
O governo, por sua vez, embalado pela corrida eleitoral de 2010, atinge recordes de arrecadação e gasta de forma errada. “Os gastos não estão voltados à infra-estrutura, ou seja, a obras que possam gerar o desenvolvimento do país, mas sim para gastos assistencialistas”, critica o diretor de Relações Institucionais do IBPT.
O que é a carga tributária?
É o resultado da divisão do total de arrecadação nas três esferas do governo (federal, estadual e municipal) dividido pelo PIB (que é a soma das riquezas do país).
Quais são os principais impostos para a economia do país?
Os tributos que mais arrecadam são o ICMS, o Imposto de Renda e a Contribuição ao INSS.
Qual imposto que o Sr. considera mais indevido? O cobrado sobre gêneros, como o IPI, ICMS, entre outros, ou o Imposto de Renda?
Os impostos sobre o consumo (ICMS, IPI, etc.) são os mais graves, pois tributam de forma injusta. O Imposto de Renda é um imposto justo, pois ele tributa o contribuinte de acordo com a sua capacidade contributiva, ou seja, quanto maior a renda, maior será a alíquota.
Há probabilidade de que a CPMF volte a ser cobrada?
Quando estava para ser votado o fim da CPMF o governo disse que seria ingovernável sem a receita de R$ 40 bilhões que representava a CPMF. No entanto, apesar de não existir mais a CPMF a arrecadação tributária continuou a crescer.
No começo deste mês, foi divulgada uma informação de que o Ministério da Fazenda estava pensando em mexer nos encargos cobrados na folha salarial. Mas a assessoria do Ministério em Brasília alega que essa informação não era oficial. De que forma a desoneração da folha pode ajudar a economia?
Nas exportações não incidem tributos, de forma a estimular o mercado externo. No entanto, uma empresa que seja eminentemente exportadora incide a tributação sobre a folha de pagamento. Portanto, nesse caso, estamos exportando tributos. Neste momento de crise, é muito importante que sejam mantidos os postos de trabalho. A redução dos encargos cobrados sobre a folha de pagamento é uma medida que será benéfica tanto para a manutenção como a criação de novos empregos.
Distorção tributária
O Sr. acredita que a transparência tributária que o próprio IBPT busca, inclusive em parceria com a Associação Comercial de São Paulo, pode ser um instrumento efetivo de combate aos altos impostos, de controle tributário?
O Sistema Tributário Brasileiro é injusto, pois ele tributa fortemente o consumo em detrimento da renda, patrimônio e ganhos de capital. De tudo que se arrecada em tributos no País, 49% é proveniente da tributação sobre o consumo. Dessa forma, as pessoas com renda mais baixa pagam o mesmo valor de imposto que pessoas com renda mais alta, ou seja, a tributação é regressiva. O consumidor não tem noção do quanto ele está pagando de tributos nos produtos de consumo, pois eles estão embutidos no preço. Por isso a necessidade de conscientizar a população que ela paga muito imposto sobre tudo o que consome.
Para solucionar esse problema, o Sr. acha viável expor o valor pago em impostos pelos consumidores nos pontos de venda?
Eu acho que em todas as notas fiscais deveriam constar o quanto o contribuinte está pagando de impostos. Hoje, com o avanço da informática é muito fácil fazer isso. Assim, se o contribuinte vai a um supermercado e gasta R$ 100,00, é importante que ele saiba que deste valor ele está levando somente R$ 65,00 em mercadorias e que está pagando R$ 35,00 em impostos.
Focando na pessoa física, o Sr. tem uma informação de quanto o brasileiro paga, em média, de impostos no supermercado?
O contribuinte pessoa física tem uma carga tributária, em média, de 40,15%. Deste total, 22,54% são gastos com tributos sobre o consumo, 14,65% com tributos sobre a renda e somente 2,96% de tributação sobre o patrimônio.
O Ipea divulgou uma pesquisa que mostra que pessoas com até 2 salários gastam 91 dias a mais por ano do que quem ganha mais de 30 salários para pagar impostos. Há uma forma de essa distorção ser corrigida? A reforma tributária poderia ser a solução para resolver as distorções?
Para corrigir esta distorção deveria ocorrer uma desoneração sobre os produtos de consumo. Para desonerar o consumo, não há necessidade de reforma tributária, basta simplesmente diminuir as alíquotas.
A economia brasileira
Em 2008, segundo a Receita Federal, a carga tributária atingiu o recorde de 35,8% do PIB. Neste ano, apesar da leve queda, a arrecadação continua forte. Qual é sua opinião sobre essa questão?
Em 2008 a carga tributária atingiu recorde porque a arrecadação continuou a crescer, ultrapassando o valor de R$ 1 trilhão. Neste ano, haverá uma leve queda na arrecadação, o que poderá gerar uma redução na carga tributária entre 0,5 e 1 ponto percentual.
Com arrecadação recorde no ano passado, medidas do Governo Federal como o PAC e o “Bolsa Família” significam que os investimentos estão sendo feitos de forma correta ou irresponsável?
O problema é exatamente este: O governo gasta muito e gasta mal. Os gastos não estão voltados à infra-estrutura, ou seja, em obras que possam gerar o desenvolvimento do país, mas sim para gastos assistencialistas. As obras que forem de infra-estrutura são bem-vindas, porque podem gerar o desenvolvimento da economia do País, agora as despesas com programas assistencialistas não geram desenvolvimento e não melhoram a situação das pessoas que recebem o dinheiro desses programas.
Segundo o IBPT, o PIB está diminuído. Mas a carga tributária continua a mesma e os gastos da máquina federal crescem. Como o senhor vê essa contradição?
Embora esteja havendo uma diminuição do PIB, a redução da carga tributária somente ocorrerá se a queda da arrecadação tributária for superior à queda do PIB. O melhor caminho para uma redução da carga tributária é uma redução dos gastos do governo, de forma que os governos (federal, estadual e municipal) não necessitem de mais de R$ 1 trilhão em arrecadação por ano.
Qual solução o Sr. vê para diminuir a carga tributária tão alta?
O país necessita de diminuição da carga tributária de modo a estimular a nossa economia. Um pequeno exemplo que a diminuição da tributação estimula o consumo foi recente diminuição do IPI.
No Brasil, pagamos impostos de primeiro mundo e recebemos serviços de terceiro. Qual é a consequência dessa incoerência?
Na verdade, paga-se uma carga tributária muito elevada e, em contrapartida, a prestação dos serviços públicos é de baixa qualidade. Dessa forma, o contribuinte, mesmo pagando uma tributação elevada, sente a necessidade de contratar serviços privados em substituição aos serviços públicos, tais como escola particular, planos de saúde, segurança, etc.
Observando os mecanismos de incentivo à economia que o governo tem usado, como as desonerações do IPI para automóveis, materiais de construção e eletrodomésticos, qual a projeção que você faz economia brasileira pós crise?
As medidas adotadas pelo governo no sentido de reduzir as alíquotas do IPI para automóveis, materiais de construção e eletrodomésticos foram corretas e oportunas, pois estimularam o mercado interno para suprir a queda no mercado externo. Houve um aumento significativo no faturamento dos setores que foram beneficiados com a redução do imposto. A consequência mais importante da redução do IPI foi a manutenção dos empregos.