Passeio pelos estados –
O primeiro semestre de cada ano no futebol brasileiro é o momento para uma peculiaridade que não se repete em lugar nenhum: antes que o Brasileirão comece, ao mesmo tempo em que muitas equipes disputam a Copa do Brasil ou a Copa Libertadores, é tempo de as rivalidades regionais se aflorarem.
O país é tão grande e tão massivamente louco por futebol, que seu calendário reserva um espaço para que cada um dos 26 estados, mais o Distrito Federal, disputem os campeonatos estaduais – quase todos começando em janeiro e a maioria neste final de semana. O “Fifa.com” apresenta um breve panorama daquilo que os principais clubes prepararam para a primeira etapa da temporada:
São Paulo – Embalado pelos gols de Ronaldo, o Corinthians foi campeão paulista no ano passado, enquanto disputava a Copa do Brasil – que também venceu. No ano em que comemora seu centenário, o Timão dividirá as atenções com outro torneio, para o qual dá uma importância quase obsessiva: a Copa Libertadores. Para isso, Mano Menezes se armou com um elenco numeroso, que permite variações e rotações. É mais ou menos o que também espera fazer Ricardo Gomes no São Paulo, um clube por natureza obcecado pela Libertadores. Depois de quatro anos em que se acostumou a acumular troféus, o Tricolorpaulista passou 2009 em branco e não gostou da ideia. Os outros dois favoritos, então, Palmeiras e Santos, têm mais ainda a provar. Os palmeirenses passaram 19 rodadas na liderança do Brasileirão e acabaram sem se classificar sequer para a Libertadores. Agora Muricy Ramalho vai ter a chance de fazer uma pré-temporada completa: será o suficiente para levar ao Palestra Itália a solidez que os times que montou tiveram ao longo de três vitoriosos anos no São Paulo? O Peixe, por sua vez, é uma incógnita completa. Trouxe o técnico Dorival Júnior, campeão da Série B pelo Vasco, e aposta um bocado de fichas no desenvolvimento de suas duas jovens pérolas: Paulo Henrique Ganso, de 20 anos, e Neymar, de 17.
As principais contratações:
* Corinthians: Roberto Carlos (Fenerbahçe-TUR), Danilo (Kashima Antlers-JPN), Iarley (Goiás), Tcheco (Grêmio)
* Palmeiras: Léo (Grêmio) e Márcio Araújo (Atlético-MG)
* Santos: Marquinhos (Avaí), Giovanni (passe livre) e Durval (Sport)
* São Paulo: Marcelinho Paraíba (Coritiba), Carlinhos Paraiba (Coritiba), Léo Lima (Goiás), Fernandinho (Barueri)
Em 2009, a Portuguesa ficou perto da semifinal do Paulistão e também perto do retorno à Série A do Brasileirão. Para superar o quase, a Lusa conta com reforços que já tiveram sucesso no clube, como Athirson e Celsinho, e até um internacional: o uruguaio Biscayzacú. Mas, se o negócio é retornar às origens, ninguém supera Juninho, que aos 36 anos decidiu vestir a camisa do time do qual é também o gestor de futebol, o Ituano – clube que o revelou para o futebol. O Paulistão tem ainda um estreante, o Monte Azul, que representa a cidade de mesmo nome, a menor entre as que têm times na elite. Se o estádio Ninho do Azulão alguma vez ficar com seus 15 mil lugares ocupados, sobram só pouco mais de 4 mil habitantes do portão para fora. O Barueri, surpresa do Brasileirão, e o Guarani, que acaba de retornar à elite nacional, esperam sobreviver ao desmanche por que passaram no fim do ano.
Rio de Janeiro – Por definição, o Flamengo, como atual tricampeão, já entraria como favorito no Campeonato Carioca. Depois do título brasileiro conquistado no fim de 2009 e de ter mantido quase toda sua base (entre os titulares, apenas Aírton e Zé Roberto saíram), a equipe de Adriano, Petkovic e do técnico Andrade é a grande vedete da edição de 2010. Acontece que os rubro-negros não foram os únicos que terminaram a temporada passada comemorando: na briga acirrada, mas vitoriosa, contra o rebaixamento o Botafogo e sobretudo o Fluminense conseguiram uma aproximação com suas torcidas como há tempos não viviam. Aliviados e devidamente reforçados na pré-temporada, o Tricolor e o Fogão – vice-campeão das três últimas edições – esperam carregar o embalo para dentro do estadual. E, se o assunto é redenção, mais ânimo ainda tem o Vasco, que cumpriu com sobras sua missão de conquistar o titulo da Série B e retornar à elite do futebol brasileiro. Os vascaínos não conquistam o título desde 2003 e, apesar de terem perdido algumas de suas jovens revelações, como Alan Kardec (Benfica-POR) e Alex Teixeira (Shakhtar Donetsk-UKR), contam com o desabrochar do garoto Philippe Coutinho, a manutenção de boa parte da equipe de 2009 e mais algumas contratações promissoras para acabar com a sequência sem troféus.
As principais contratações:
* Botafogo: Sebastián Abreu (passe livre); Herrera (Grêmio)
* Fluminense: Thiaguinho (Botafogo), Júlio Cesar (Goiás), Willians (Palmeiras) e Leandro Euzébio (Goiás)
* Vasco: Léo Gago (Avaí), Rafael Carioca (Spartak Moscou-RUS), Dodô (passe livre), Élder Granja (Sport)
E o que mais?
Não é sempre que as outras equipes do estadual do Rio de Janeiro conseguem ocupar uma posição de destaque a ponto de atrapalhar a vida dos quatro grandes. Prova disso é que a última vez que o título não ficou nas mãos de Flamengo, Botafogo, Fluminense ou Vasco da Gama foi num longínquo 1966, quando o Bangu levantou a taça. Deve ser mais por curiosidade, então, que valerá a pena ver o que acontece com times como o Duque de Caxias – que tem o argentino Lívio Prieto, campeão da Copa do Mundo Sub-20 da FIFA em 2001 – e sobretudo o recém-ascendido América, que realizou a façanha de reunir a dupla de ataque campeã do mundo com o Brasil em 1994: Bebeto e Romário. O primeiro como técnico e o segundo, como gerente de futebol (e centroavante nas horas vagas?).
Minas Gerais – A princípio não há motivos para esperar que o titulo não fique entre os habituais candidatos Atlético Mineiro e Cruzeiro. O Galo comemorou a manutenção do artilheiro Diego Tardelli e aposta muito na chegada de Vanderlei Luxemburgo no banco. A Raposa, por sua vez, manteve a equipe que conquistou vaga na Libertadores de 2010.
Rio Grande do Sul – Outro estado em que a briga tende a se polarizar entre o atual bicampeão Internacional e o Grêmio. Enquanto os colorados trouxeram o uruguaio Jorge Fossati para comandar uma equipe recheada de talentos como Taison, Giuliano e D’Alessandro no Gauchão e na Libertadores, o Tricolor do técnico Silas foi buscar uma turma de ex-são-paulinos: Borges, Hugo e Leandro.
Paraná – Agora como único representante do estado na Série A do Brasileirão, o atual campeão Atlético Paranaense teoricamente é o grande favorito ao título, mas entre os principais estaduais poucos são tão imprevisíveis quanto o Paranaense, que teve vencedores diferentes nos últimos quatro anos. O Coritiba, ainda lambendo as feridas do rebaixamento, tenta começar de novo depois de perder peças importantes.
Pernambuco – Depois de perder os dois representantes que tinha na Série A do Campeonato Brasileiro – o Sport e o Náutico, ambos rebaixados em 2009 -, os pernambucanos lutam para trazer brilho de volta ao estado. O Leão da Ilha busca o pentacampeonato de um torneio que permanece restrito às mãos dos dois clubes e do Santa Cruz desde 1944.
Bahia – Os bons tempos estão de volta no Campeonato Baiano. Ou ao menos os jogadores dos bons tempos. O Vitória aposta num meio-campo com Ramón, de 36 anos, e Uéslei, de 37, enquanto o Bahia foi ainda mais longe e trouxe de volta aos campos o Capetinha Edílson, que aos 39 anos volta a ser estrela de sua terra natal.
Goiás – O Campeonato Goiano é mais um que promete ter briga acirrada entre seus dois representantes na elite, o Goiás e o Atlético Goianiense, além do Vila Nova e de eventuais surpresas como o Itumbiara, campeão de 2008. Em Santa Catarina, o Avaí espera poder manter o status que obteve ao se tornar grande surpresa do Brasileirão 2009, apesar de ter perdido um bocado de jogadores. Outro representante na elite, o Ceará, já está em plena atividade sob o comando do novo técnico René Simões, num campeonato que começou no dia 9 de janeiro.