Negromonte no Ministério das Cidades mostra a necessidade de uma “reforma da política”

Clube privado – Entra ano, sai ano, e a tão anunciada reforma política continua no cardápio da retórica parlamentar. Com os partidos transformados em verdadeiras casamatas de interesses pessoais de uma minoria, o Brasil precisa urgentemente de uma reforma da política. Pode parecer que inexistam diferenças entre o sugerem os políticos profissionais e o que propõem os jornalistas do ucho.info, mas a forma de se fazer política precisa ser revista com direito a assepsia profunda.

O melhor exemplo dessa necessidade está comprovado na indicação do deputado federal Mário Negromonte (PP-BA) para o Ministério das Cidades, pasta atualmente ocupada por Márcio Fortes, também do Partido Progressista, mas que nada fez em prol do fortalecimento da legenda durante o período em que esteve administrando um polpudo orçamento. Não se trata de cobrar do ministro alguma benesse material para seus aliados, mas ações que fortaleçam o partido e enalteça sua ideologia política.

Mário Negromonte, cuja indicação não contou com a unanimidade da bancada do PP no Congresso Nacional, assumirá o Ministério das Cidades por conta da interferência do petista Jaques Wagner, governador da Bahia. Ex-líder do PP na Câmara e reeleito deputado federal, Negromonte soube usar o partido em benefício próprio, assim como os que o antecederam no cargo. O que reforça a tese aqui defendida de que é preciso mudar a forma de fazer política.

Há na indicação confirmada na noite de segunda-feira (2) pela equipe de transição detalhes que passam ao largo do raciocínio dos menos atentos. Durante décadas a fio, o Partido dos Trabalhadores e o Partido Progressista foram inimigos figadais, com direito a acusações das mais torpes e variadas. A animosidade foi ligeiramente quebrada na eleição de 2004 para a prefeitura de São Paulo, quando Paulo Maluf, terceiro colocado na corrida ao trono paulistano, se bandeou para o lado da petista Marta Suplicy no segundo turno. Essa mudança radical de postura de Maluf contou com afagos à candidata que tentava a reeleição, fotos abraçados e acusações de que uma polpuda quantia saída do caixa do mensalão teria alimentado esse inexplicável casamento político. Com eleitorado cativo em São Paulo, Paulo Maluf não conseguiu convencer os eleitores paulistanos e o tucano José Serra venceu a disputa.

Se por um lado o futuro ministro Mário Negromonte não representará na Esplanada dos Ministérios o desejo colegiado do PP, por outro será interessante ver, mais algumas vezes, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) criticar o governo do PT e a presidente eleita Dilma Rousseff, a quem o parlamentar dedica adjetivos como terrorista, assassina e outros que tais. Fora isso, quem votou no PP acreditando na velha ideologia partidária da direita terá de se contentar com o servilismo boquirroto e genuflexo de Mário Negromonte, que rezará pela cartilha da presidente eleita, contrariando o desejo dos eleitores.

Em outras palavras, a política é um conhecido e obscuro balcão de negócios, que cada vez mais privilegia interesses pessoais e deixa ao relento as necessidades de uma nação com 190 milhões de eternos abandonados.