Pulando do barco – Luiz Inácio da Silva, que no passado liderou greves aos bolhões, disse que aposta em um entendimento entre os empresários do setor aéreo e representantes dos aeronautas e aeroviários, como forma de evitar a paralisação do setor, marcada para esta quinta-feira (23) em todo o País. “Acho que empresários e trabalhadores devem flexibilizar um pouco. Não é correto e humano alguém impedir que uma pessoa viaje no Natal”, disse o presidente.
Exigir flexibilização de ambas as partes é não querer enxergar o caos que impera no Brasil, sem que o presidente-metalúrgico, que tantas promessas fez, tivesse se movimentado para readequar a infraestrutura no País. A bordo da teoria obtusa da estatização, o governo do PT empurrou ao máximo o problema dos aeroportos. Enquanto Lula da Silva incentivava o consumo desenfreado, que refletiu no mercado de passagens aéreas, nada foi feito por parte do governo federal para melhorar a situação dos aeroportos brasileiros. Mesmo que a greve anunciada tenha sua abrangência reduzida por determinação do Tribunal Superior do Trabalho, o caos deve ser ainda maior, pois não é de hoje que os aeroportos operam além do limite.
Ministro da Defesa, o gaúcho Nelson Jobim culpou as empresas aéreas pela greve. Em carta enviada na quarta-feira às empresas de aviação, Jobim creditou o fracasso das negociações com os trabalhadores do setor à “postura dos representantes do sindicato patronal” e lembrou que com doses de boa vontade “poderíamos, a essa altura, estar a assegurar aos brasileiros a tranquilidade em relação a suas viagens”.
A opinião pública, de maneira afoita, culpa os empresários do setor aéreo por uma situação que pode se agravar com a paralisação dos trabalhadores da aviação, mas é preciso considerar alguns fatores antes de qualquer crítica. O primeiro deles é que ninguém compra uma aeronave por R$ 100 milhões ou mais – é o preço aproximado de um Airbus A320 – para fazer caridade. Aviação comercial é um negócio como outro qualquer e visa lucro. Se os custos aeroportuários fossem condizentes com a realidade internacional, a relação entre patrões e empregados certamente seria outra, não sem antes termos preços justos nas passagens para todos os destinos. O outro ponto importante a ser levado em conta é que a carga tributária brasileira, uma das maiores do planeta, inviabilizava na maioria das vezes a expansão de negócios e obriga a relação vulcânica entre patrões e empregados por conta de reajustes salariais.
O que Lula da Silva deseja no atual momento é não ter interrompida a farra da sua despedida do poder. Que o governo federal tem responsabilidade no atraso de muitos setores da economia todos sabem. A baixa cotação do dólar, as taxas de juros e o chamado custo Brasil inviabilizam as exportações brasileiras. Mas nada é feito para reverter esse quadro. Com a precária infraestrutura no setor de transportes, o agronegócio, locomotiva da geração de riquezas no País, continua sendo vilipendiado pelo poder público. A inoperância do Estado faz com que os brasileiros paguem mais caro pelos gêneros alimentícios. O mesmo ocorre com a energia elétrica e com a telecomunicação. O que não muda no caso da aviação. E o apagão aéreo provou isso.
Logo após o trágico acidente com o Airbus da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o governo federal, que fez ameaças veladas aos envolvidos para escapar da culpa evidente, não economizou promessas. Desde a construção de um novo aeroporto até a privatização da Infraero, passando pelo imediato aumento da distância entre as poltronas das aeronaves, tudo era possível. Acontece que passados 1.255 dias da tragédia nada foi feito, o que não deve acontecer tão cedo.
E Lula que não venha posar como o último gênio da Humanidade, pois sua irresponsabilidade e fanfarrice discursiva são velhas conhecidas dos brasileiros.