Inflação e salário mínimo: duas heranças malditas que Lula deixa à sucessora Dilma

Cavalo de Tróia – Nos últimos oito anos, Luiz Inácio da Silva e seus obedientes assessores gastaram boa parte do tempo falando em “herança maldita”, forma encontrada para fazer referência ao legado de Fernando Henrique Cardoso, que comandou os destinos do País até 31 de dezembro de 2002. Foi assim que Lula conseguiu anestesiar a opinião pública e vender aos incautos uma bolha de virtuosismo que começa a estourar, deixando à presidente Dilma Vana Rousseff um complexo e amaldiçoado espólio.

Em seu discurso de posse, Dilma disse aos brasileiros que as mudanças protagonizadas precisam ser aprofundadas, mas é sabido que aquilo que foi vendido pelo Palácio do Planalto ao mundo como sendo a mais genial das soluções não passa de um conjunto pirotécnico de inverdades.

Decidido a ser o inimigo principal da crise financeira planetária, Lula deixa à sua sucessora e principalmente à sociedade a pior e mais temida das heranças. O endividamento recorde das famílias brasileiras, que acreditaram no discurso vigarista de que consumir de maneira desenfreada era a solução. Com preocupantes índices de inadimplência, o mercado financeiro começa a repensar a concessão de crédito, que nos últimos dois anos ultrapassou o limite da razoabilidade.

O consumismo irresponsável patrocinou o retorno da inflação. Para evitar a volta do temido fantasma da economia, autoridades monetárias do novo governo já admitem elevar a taxa básica de juros em breve, o que refletirá no bolso do consumidor que se acostumou ao crédito fácil e atualmente luta contra o esperado atraso nas contas mensais. Por outro lado, a elevação da Selic aumenta de maneira consequente e automática a dívida do governo federal, que busca diuturnamente no mercado financeiro recursos para honrar o pagamento dos juros.

Em outra ponta de tal cenário está o capital estrangeiro especulativo, que busca cada vez mais no Brasil rendimentos altos e rápidos, o que faz com que a cotação da moeda norte-americana, referência monetária para negócios internacionais, despenque, prejudicando as exportações verde-louras. Assim, o Brasil dá um novo passo rumo à desindustrialização, pendendo como sempre para o status de um país de comerciantes e prestadores de serviços, o que privilegia as importações. No contraponto, a valorização do Real frente ao dólar tem um fator positivo. Ajuda na contenção da disparada da inflação.

Essa conjunção de fatores pode levar a uma onda de forte retração na geração de empregos, quiçá não ocorra o encolhimento da massa laboral. Logo nos primeiros meses do novo governo a presidente Dilma Rousseff não enfrentará problemas sérios na seara do emprego, o que deve acontecer somente no segundo semestre deste ano que acaba de raiar. Se o dólar baixo é considerado como um obstáculo para o retorno da inflação, a falta de competitividade do País no mundo das exportações pode ter consequências sérias, a começar pela demissão de trabalhadores.

Tão logo sua vitória nas urnas foi confirmada oficialmente, Dilma ouviu de assessores mais próximos que uma nova crise financeira internacional estava em marcha e que os reflexos chegariam ao País mais cedo ou mais tarde. Como antídoto, a assessoria comunicou à presidente que o incentivo ao consumo interno seria mais uma vez uma saída rápida e adequada. Diferentemente do que ocorreu em dezembro de 2008, quando Lula da Silva implorou para que o consumo fosse mantido em alta como forma de evitar as reticências da crise que ele batizou como “marolinha”, os brasileiros, às voltas com endividamento desnecessário e irresponsável, hoje estão vacinados contra as compras irresponsáveis.

Para piorar o quadro atual, a decisão do presidente Lula da Silva de repassar ao novo salário mínimo, agora valendo míseros R$ 540, apenas o valor correspondente à inflação de 2010, deixará de injetar no mercado o dinheiro necessário para melhorar a vida de milhões de brasileiros e de alguma maneira aumentar o consumo. Fora isso, Lula deixou para a sua sucessora a difícil missão de enfrentar a legítima chiadeira dos aposentados que recebem como benefício o equivalente a um salário mínimo. E a contestação, que pode acontecer nas próximas semanas, deve contar com o total e irrestrito apoio da população, pois se o Brasil vive um momento supostamente melhor, é porque muitos deram suor e trabalho à nação.