Comunidade italiana em São Paulo revoltada com a decisão de Lula no caso de Cesare Battisti

Tiro no pé – Ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota disse, no domingo (2), que a presença do embaixador italiano Gheraldo della Francesca na posse da presidente Dilma Rousseff, no dia 1º de janeiro, foi uma demonstração de que não há problemas entre os dois países por causa da decisão do então presidente Lula, que na última sexta-feira, no apagar das luzes de 2010, de não extraditar o terrorista Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua em seu país por participação em quatro assassinatos, nos tempos em que integrou o grupo de esquerda “Proletários Armados pelo Comunismo”.

Acontece que o eventual posicionamento de Gheraldo della Francesca não reflete o desejo do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, que já anunciou que o Brasil sofrerá retaliações nos campos político e comercial. No próximo dia 11 de janeiro, o parlamento italiano coloca em votação um acordo militar com o Brasil, que prevê o desenvolvimento de projetos e a construção de navios de patrulha oceânica, fragatas e embarcações de apoio logístico. Há dias, o ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, ao falar sobre o acordo militar, disse que “ninguém deveria imaginar que um ‘não’ à extradição de Cesare Battisti não teria consequências”. “Eu consideraria isso um grande dano às relações bilaterais”, completou La Russa.

O novo ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, afirmou que considera correta a decisão do ex-presidente Lula de não extraditar o terrorista italiano. “Após ler o parecer da Advocacia-Geral da União, não tenho a menor dúvida de que a decisão do presidente Lula foi correta. Nem sempre quando um país adota decisões soberanas, você tem a aceitação de todos. O presidente decidiu em estrita consonância com o nosso direito e com o que o Supremo Tribunal Federal (STF) tinha manifestado”, declarou Cardozo.

Na rápida entrevista concedida em Brasília, o ministro da Justiça disse não acreditar no comprometimento das relações entre os dois países por conta da decisão tomada por Luiz Inácio da Silva. “Não creio que uma decisão desse tipo possa comprometer uma relação de amizade profunda com a Itália. Os italianos são nossos irmãos”, declarou José Eduardo Cardozo.

Mas não é esse o pensamento da comunidade italiana no Brasil. Em São Paulo, maior reduto dos “oriundi” na Terra de Macunaíma, os italianos estão revoltados com a decisão tomada pelo ex-presidente Lula. Em conversa com a reportagem do ucho.info, um representante da comunidade ítalo-brasileira em São Paulo disse que seus compatriotas esperavam uma atitude diferente caso o atual presidente fosse o tucano José Serra.

Como anteciparam os jornalistas deste site, extraditar Cesare Battisti, entregando-o ao governo italiano, seria o mais correto do ponto de vista jurídico e das relações internacionais, mas ao mesmo tempo colocaria no patíbulo da opinião pública o pretérito status de terrorista de Dilma Vana Rousseff, que nos plúmbeos anos brasileiros engrossou de forma intensa as fileiras da luta armada.