Com dez mandatos consecutivos, deputado Inocêncio Oliveira anuncia sua aposentadoria

Ao lado do poder – O deputado federal com o maior número de mandatos na Câmara anunciou sua aposentadoria. Antes de pendurar as chuteiras, o segundo secretário da Mesa Diretora, Inocêncio Oliveira (PR-PE), pretende completar o décimo mandato consecutivo conquistado nas urnas em outubro passado. A aposentadoria, portanto, só virá em fevereiro de 2015, quando estará com 76 anos.

Médico de formação, Inocêncio provavelmente pouco trabalhou nessa atividade em sua terra natal, Serra Talhada, no agreste pernambucano. Exerceu a profissão até 1974 como cirurgião-chefe do Hospital Agamenon Magalhães, em Recife. Político profissional, Inocêncio de Oliveira sempre esteve próximo do poder desde os tempos da Arena, partido criado pelo Palácio do Planalto nos anos de chumbo.

Essa característica política e sua habilidade em agradar os colegas do parlamento lhe garantiram a presidência da Câmara dos Deputados entre 1993 e 1994. Neste cargo, assumiu por trinta vezes a Presidência da República. Depois disso, Inocêncio jamais deixou a Mesa Diretora. Nos corredores do Congresso há parlamentar que garanta que na próxima legislatura o pernambucano mais uma vez estará presente, seja com o PT na presidência ou outro partido.

Ao justificar sua aposentadoria, Inocêncio de Oliveira citou Eclesiastes: “Há tempo para tudo. Tempo de plantar, tempo de regar. Também tem que haver o tempo de deixar a política”. Na entrevista que concedeu ao jornalista de Pernambuco Magno Martins, ele disse que depois de 2015 passará a se dedicar “exclusivamente” às suas empresas, à família e escreverá suas memórias. O deputado tem três filhas, mas nenhuma quis seguir os passos do pai na política.

Em 2006, o parlamentar foi condenado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Maranhão a pagar indenização de R$ 130 por dia, a título de danos morais, a 53 trabalhadores rurais. O Ministério do Trabalho flagrou em 2002 os trabalhadores em situação semelhante a de escravos na Fazenda Caraíbas, no município de Gonçalves Dias.

Em decisão de primeira instância, o juiz do Trabalho da Vara de Barra do Corda, Manoel Lopes Veloso Sobrinho, condenou Inocêncio a pagar R$ 10 mil para cada trabalhador, totalizando R$ 530 mil, que seriam revertidos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Pouco tempo depois, o Supremo Tribunal Federal decidiu arquivar o inquérito (Inq 2054) contra o deputado federal pela suposta prática de trabalho escravo. A decisão foi por maioria. Apenas o ministro Joaquim Barbosa se convenceu de que deveria ser recebida a denúncia do Ministério Público contra o parlamentar.

Fora das esferas judiciais, outra polêmica marcou o currículo do parlamentar pernambucano. Para viabilizar a construção de um poço em uma de suas propriedades rurais, Inocêncio de Oliveira não pensou duas vezes ao convocar o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) para executar a tarefa, utilizando na obra verba da própria repartição pública. À época, Inocêncio apresentou desculpas esfarrapadas, mas o escândalo caiu na vala do esquecimento.