Após sumiço, Kassab ressurge a bordo de desculpas esfarrapadas para justificar enchentes

Submarino amarelo – Quando lançou o “piscinão”, invenção da engenharia para receber as águas pluviais que normalmente açoitam a cidade de São Paulo durante o verão, o então prefeito Paulo Maluf foi largamente criticado. Nesta terça-feira (11), depois de um providencial sumiço, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) disse durante entrevista coletiva à imprensa que “os piscinões corresponderam à expectativa em relação à sua capacidade. Todos eles estavam preparados e ajudaram para que a consequência não fosse maior ainda”.

Para justificar a inoperância de sua administração à frente da prefeitura da maior cidade brasileira, Kassab transferiu à natureza a culpa pela tragédia que começou na noite de segunda-feira (10) e se estendeu pela madrugada e manhã desta terça. “Cada vez mais chove mais” em São Paulo, declarou o alcaide paulistano. O democrata Gilberto Kassab, que tem dedicado seu tempo para tratar de seu futuro político, não revelou qualquer novidade. São Paulo sofre com as enchentes há séculos e no verão a temporada de chuva não dá trégua.

O que as autoridades deveriam fazer, mas não fazem, é buscar uma solução definitiva para uma cidade que cresceu desordenadamente e desrespeito a lógica da natureza. Com altíssimo índice de impermeabilidade. São Paulo é o cenário ideal para enchentes arrasadoras. As marginais do Tietê e do Pinheiros, por exemplo, foram construídas sobre as várzeas dos rios homônimos. O espaço que a natureza criou para abrigar as cheias dos rios, hoje serve de cenário para tragédias.

Há no mercado produtos pisos asfálticos com comprovada absorção de água, o que reduziria consideravelmente o problema que já faz parte da história paulistana. As áreas de risco, onde normalmente ocorrem desabamentos, são velhas conhecidas das autoridades. Ao cobrar impostos sobre imóveis construídos em áreas proibidas ou de risco, ou até mesmo provendo os serviços básicos (água, luz e esgoto), o Estado como um todo assume a responsabilidade pelos cidadãos que lá residem. A recusa da prefeitura em admitir a inoperância está calcada na possibilidade de uma enxurrada de ações de indenização por parte dos prejudicados, o que na opinião de especialistas do Direito é algo absolutamente viável e legal.

Questionado sobre a falta de investimentos por parte da prefeitura para evitar as enchentes, Gilberto Kassab rebateu dizendo que “existe hoje um volume de investimentos que nunca existiu na cidade de São Paulo”. Acontece que, até recentemente, a limpeza dos tais “piscinões” foi alvo de discussões políticas e jurídicas. Fora isso, as campanhas que visam reeducar a população, que continua jogando lixo nas ruas, só acontecem às vésperas da temporada de chuva.

As evasivas declarações do prefeito Gilberto Kassab aconteceram durante a cerimônia de lançamento do projeto “Carnaval de São Paulo: só não vê quem não quer”. Na verdade, quem não quer ver o óbvio é o próprio prefeito da Pauliceia Desvairada, que continuará refém das sempre impiedosas águas de Pedro.