Efeito retardado – Quando, no final de 2008, o então presidente Lula ocupou os meios de comunicação para pedir aos brasileiros a manutenção do consumo em níveis elevados, como forma de evitar as reticências da crise financeira internacional, à época classificada como marolinha, os jornalistas do ucho.info alertaram para dois perigos iminentes: o endividamento e a inadimplência. A resposta palaciana foi que torcemos contra o Brasil. Na verdade, torcemos não apenas pelo Brasil e pelos brasileiros, mas principalmente pelo crescimento planejado da economia e do poder de compra do cidadão.
Temendo ser dragado pelas garras da crise, o que colocaria sua popularidade no abismo, Luiz Inácio da Silva apostou no crédito fácil e nas benesses tributárias como solução para manter a economia brasileira girando. Embalado por essa combinação explosiva, o consumidor foi às compras “como nunca antes na história deste país”. Com a falsa sensação de enriquecimento, situação provocada pela concessão irresponsável de crédito, o brasileiro acabou comprando muito além da sua capacidade de pagamento. O que levou a um endividamento recorde das famílias brasileiras.
Longe de apelar para a profecia do apocalipse, a inadimplência foi tema largamente noticiado por este site. De acordo com indicador da Serasa Experian, divulgado nesta terça-feira (11), a inadimplência do consumidor brasileiro cresceu 6,3% em 2010, em comparação com o ano anterior. Segundo a pesquisa, o aumento foi maior que o de 2009, na comparação com 2008. O avanço registrado no período foi de 5,9%.
Para os economistas da Serasa, o aumento da inadimplência se deve ao maior endividamento dos consumidores, que acabou ultrapassando com folga o crescimento da renda pessoal; à dilatação dos prazos de financiamento e aos estímulos ao consumo patrocinados pelo governo federal, como a isenção de IPI em determinadas linhas de produtos. “Além disso, o aumento da inflação contribuiu para reduzir o poder aquisitivo, afetando a parte da renda destinada ao pagamento de dívidas”, informou a Serasa. A nota distribuída à imprensa destaca que “a taxa inadimplência das pessoas físicas dentro do sistema bancário poderá sofrer alguma correção para cima, embora pequena, em 2011″.
Os números que retratam o comportamento do consumidor, após a euforia das compras, comprometem a economia, como um todo, que em função da inadimplência começará a encontrar gargalos inesperados. Em nenhum momento o então presidente Lula se preocupou em patrocinar um crescimento contínuo e planejado do poder de compra do brasileiro. Preferiu pegar carona no fato de o Brasil ser o último país a entrar na crise e o primeiro a sair, deixando à sorte de cada um o calvário da inadimplência. Muito utilizado pela presidente Dilma Rousseff durante campanha presidencial, o discurso de que 28 milhões de brasileiros ascenderam à classe média é mentiroso, pois isso ocorreu por pouco tempo e sob as bênçãos do crédito fácil.
Acostumado a balbuciar durante seus dois mandatos a tese da herança maldita, forma que encontrou para estocar a oposição, Lula deixou à sua sucessora não um espólio amaldiçoado, mas uma bomba de efeito retardado, que ao explodir mandará pelos ares o virtuosismo que o ex-metalúrgico vendeu com o conhecido alarde ao mundo e aos incautos habitantes dessa barafunda chamada Brasil.