Lobby de senador norte-americano acabou ofuscado pelo conturbado noticiário do cotidiano

Cortina de fumaça – Transformado da noite para o dia em lobista da Boeing, que ainda não perdeu as esperanças de emplacar o caça F-18 Super Hornet no projeto de renovação da frota da Força Aérea Brasileira, o senado norte-americano John McCain teve o seu rasante por Brasília comprometido pela fumaça produzida pelos fatos do cotidiano.

Senador pelo Partido Republicano, McCain tentou ser simpático durante a vista que fez na última segunda-feira (10) à presidente Dilma Rousseff. Durante o encontro, realizado no Palácio do Planalto, John McCain defendeu a superioridade dos supersônicos ianques, que de acordo com decisão do Ministério da Defesa brasileiro devem perder a briga para os Rafale da francesa Dassault.

A visita de McCain ao Brasil não teve a repercussão esperada, especialmente porque no mesmo período os Estados Unidos acompanhavam os desdobramentos da tragédia ocorrida em Tucson, no Arizona, reduto político do senador republicano. Descrito pelas autoridades policiais como uma pessoa de “passado problemático”, o jovem Jared Lee Loughner, de 22 anos, invadiu o estacionamento de um supermercado e atirou contra os participantes de um encontro com a deputada democrata Gabrielle Giffords. Além da parlamentar, que continua em estado grave, outras treze pessoas ficaram feridas e seis morreram.

Mas a tragédia norte-americana não foi o único assunto a roubar o eventual brilho da visita de McCain ao Brasil. Os desdobramentos da crise política que se instalou na Esplanada dos Ministérios, os estragos causados pelas chuvas em alguns estados brasileiros e a novela Ronaldinho Gaúcho tiraram de John McCain o espaço na mídia com que ele tanto sonhava.

Conhecido nos Estados Unidos por seu quase constante mau humor, John McCain, que coleciona em seu currículo gafes de toda ordem – certa vez quis saber os motivos da suposta feiúra de Chelsea Clinton [filha do ex-presidente Bill Clinton] – deveria ter agendado encontro com o José Serra, um notório especialista quando o assunto é temperamento difícil. Sem contar que ambos, McCain e Serra teriam pelo menos um assunto para conversar durante horas: derrota eleitoral. Assim como o ex-presidenciável tucano, McCain perdeu a corrida última presidencial, cujo vencedor foi Barack Obama.