São Pedro: há décadas o culpado predileto dos incompetentes políticos da Botocúndia

Desculpa padrão – Magnânimos, oráculos do Senhor, prepostos do Criador, seres especiais que desconhecem o significado da palavra erro. Assim são os políticos brasileiros, que diante de catástrofes preferem terceirizar a culpa a admitir a própria incompetência.

O Brasil, que o messiânico Luiz Inácio da Silva resolveu apelidar de “país de todos”, não passa de um extenso e bem adornado palco para a exibição dos desmandos de uma minoria eternamente privilegiada. Deixando de lado os numerosos escândalos de corrupção que impulsionaram os dois mandatos de Lula da Silva, talvez a maior tragédia nacional, a ordem atual é centrar a atenção no cenário de destruição que marca diversas cidades brasileiras, que ano após ano são duramente castigadas pela não prevenção a desastres naturais.

Em São Paulo, o sempre gazeteiro Gilberto Kassab preferiu creditar aos céus a culpa pela recente inundação da maior cidade do País. Depois de um sumiço providencial, até porque sua migração para o PMDB estava sendo negociada no momento da tempestade, Kassab ressurgiu na cena política para aspergir impropérios. De chofre, o alcaide paulistano disse que a culpa pela enchente que levou a capital paulista ao naufrágio deveria ser creditada ao excessivo volume de chuva. Como se ninguém soubesse que essa época do ano é conhecida como a temporada das chuvas e inundações, mas que nenhum governante, por interesses meramente políticos, ousa mudar o trágico status quo.

Horas mais tarde, o mesmo Gilberto Kassab, já não à frente da linha de tiro, preferiu repetir a cantilena oficial e afirmar que os moradores das áreas de risco sabem que estão expostos ao perigo constante. Conversa fácil de ser levada adiante, pois Kassab mora em região nobre da cidade de São Paulo, onde o metro quadrado provavelmente é o mais caro do Brasil e inundação é coisa de outro mundo.

No Rio de Janeiro, que horas atrás recebeu de volta ao País um esbaforido e sempre trapalhão Sérgio Cabral Filho, o discurso não fugiu do costumeiro cipoal de mentiras. O governador fluminense, que se empenhou para dividir com Dilma Rousseff a metralhadora da opinião pública, disse que o populismo é o responsável maior pela catástrofe que despencou sobre a Região Serrana do Estado. Com esse palavrório insano, Cabral Filho deixou clara a sua intenção de atirar no colo dos antecessores a culpa pela tragédia que ceifou 508 vidas e deixou milhares de pessoas desabrigadas e desalojadas.

No melhor estilo moça inocente e discípula de alguém que jamais soube de falcatruas, a presidente Dilma Rousseff abusou das evasivas ao tentar excluir o governo federal da artilharia das críticas. Disse que a catástrofe que destruiu as cidades serranas do Rio decorre da falta de políticas de saneamento e habitacional. Mas a própria Dilma, durante a corrida presidencial, destacou os avanços na área de saneamento na era Lula e exaltou a eficácia mambembe do programa “Minha Casa, Minha Vida”.

O fato de Dilma Rousseff não ter transferido a culpa pela tragédia à natureza não dá o direito de o cidadão acreditar que a presidente deixou de usar esse tipo de subterfúgio. Para que a memória dos leitores seja reaquecida, a culpa pelo apagão de energia elétrica, que em novembro de 2009 deixou dezoito estados brasileiros na escuridão, foi creditada a um raio que caiu sem avisar no lugar errado. E quem ousou contestar a agora presidente Dilma Rousseff foi tratado à época com a truculência comportamental que emoldura o currículo da discípula do nosso Messias tupiniquim.

Em outras palavras, a incompetência oficial elegeu São Pedro, gerente do açude celestial, como o culpado supremo por todas as coisas luciferianas que acontecem nesse mundo de meu Deus.