Participação de Dilma em cerimônia pelo Dia do Holocausto é recado a Ahmadinejad e aceno para Obama

Tacada múltipla – Logo mais às 19 horas, a presidente Dilma Vana Rousseff participa, em Porto Alegre, de evento pelo Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Na cerimônia a presidente estará acompanhada da ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

A decisão de Dilma Rousseff de participar do evento vai contra o discurso do presidente Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, para quem o Holocausto não existiu. Ahmadinejad, que continua desafiando o mundo com o projeto nuclear que o governo de Teerã insiste em manter sob total segredo, tem o Estado de Israel como seu maior desafeto.

Com sua participação no evento que terá lugar na capital gaúcha, Dilma não apenas manda um recado ao homem-bomba Mahmoud Ahmadinejad, mas contempla os interesses da Casa Branca, sede do governo dos Estados Unidos.

No discurso que fez à nação na última terça-feira (25), ocasião em que balizou os congressistas ianques sobre as novas medidas a serem adotadas por Washington, o presidente Barack Obama fez questão de afirmar que o Brasil está em seus planos e preocupações. O último presidente norte-americano a citar o Brasil em discurso foi Jimmy Carter, em 1991.

A recente citação, duas décadas após a primeira, não aconteceu por acaso. Há na pauta de Obama uma série de interesses relacionados ao Brasil, assim como existe na agenda de Dilma Rousseff outros tantos. Os Estados Unidos têm interesse estratégico na América do Sul, cujos motivos se resumem a um só endereço. O Palácio Miraflores, em Caracas, de onde o tiranete Hugo Chávez dispara ordens para transformar a Venezuela em uma versão um pouco maior de Cuba.

Além disso, o presidente Barack Obama, que desembarca no Brasil em março, quer fazer da Boeing a vencedora do processo de renovação da frota da Força Aérea Brasileira, com os F-18 Super Hornet. O entrave maior está na legislação norte-americana, que proíbe em qualquer situação a transferência de tecnologia militar.

Para amenizar as dificuldades que a Boeing enfrenta no rastro da preferência brasileira pelos caças franceses Rafale, da Dassault, o Palácio do Planalto, a exemplo do que aconteceu em governos anteriores, continua insistindo em garantir ao País um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Pleito que, dependo das tratativas, Obama pode facilitar a vida de Dilma Rousseff.

O complexo quadro diplomático que está por trás da agenda de Dilma Rousseff aponta para situações distintas das que marcaram os dois mandatos de Luiz Inácio da Silva. Mantido no cargo de assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, uma espécie de chanceler genérico, Marco Aurélio Garcia não tem abusado, pelo menos por enquanto, da utopia discursiva ao palpitar em assuntos afetos ao Itamaraty, atualmente sob o comando do embaixador Antonio de Aguiar Patriota, que tem perfil oposto ao do antecessor, o trapalhão Celso Amorim.