Correndo solto – Pela oitava vez consecutiva, o mercado financeiro projetou para cima a expectativa de inflação em 2011. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para o mercado em assuntos inflacionários, subiu de 5,53% para 5,64% ao ano.
De acordo com o professor de economia Evaldo Alves, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, “as pressões inflacionárias são decorrentes, em grande parte, de duas fontes, a primeira é a alta de preços das commodities no mercado internacional. E a outra é a pressão interna como consequência da intensificação do crescimento do mercado interno brasileiro”.
Alves destaca o uso da Selic pelo Banco Central como uma das armas para conter a escalada da inflação. “As autoridades monetárias estão utilizando a Selic como o instrumento básico de combate à inflação. Esse processo está sendo acompanhado também pelas medidas de controle do déficit público já anunciado pelo governo, o que indica que a Selic continuará aumentando”, afirma o professor da FGV. Na opinião de Alves, a inflação e a Selic devem continuar subindo ao longo do ano, sendo que “a desvalorização do dólar deverá resultar numa taxa de câmbio de R$ 1,75 no final de 2011”.
O retorno da inflação, fantasma que aterroriza a população, tem feito vítimas em todos os segmentos da sociedade brasileira. Como sempre faz, a reportagem do ucho.info foi a campo para verificar os preços de alguns itens de consumo diário e, pela primeira vez, de produtos considerados supérfluos. No Ceagesp, maior centro de distribuição de frutas, verduras e legumes da América Latina, o preço da laranja entrou na seara do sonho de consumo se considerarmos o pífio valor do salário mínimo. Uma dúzia de laranja, de boa qualidade, não sai por menos de R$ 6,20. Um trabalhador que recebe um salário terá de desembolsar R$ 30 se colocar à mesa duas laranjas a cada dia.
No universo dos produtos considerados supérfluos, o champanhe nacional, que foi a coqueluche das vendas de bebidas em 2010, sofreu aumento de 20% de dezembro para cá, na maior cidade brasileira, São Paulo.
Quando a alta de preços começa a incomodar a população sem distinção de classes, algo mais sério existe por trás dos discursos oficiais. Alegar que a inflação será controlada, e nada mais, só tem duas interpretações: minimalismo discursivo ou cortina de fumaça para um problema maior.