A história se repete – O discurso genérico e inconsistente proferido por Dilma Rousseff na cerimônia de abertura dos trabalhos legislativos, no Congresso Nacional, dividiu opiniões. De um lado ficou a animada claque plateia de aduladores, que por questões óbvias e pragmáticas defenderam a presidente. Do outro, em menor número, os oposicionistas de sempre, com críticas fundamentadas, pois o que se viu no Parlamento, na tarde de quarta-feira (2), foi uma reprise do primeiro discurso de Lula da Silva, em 2003.
Os que defenderam a neopetista alegaram que o fato de Dilma Rousseff ter quebrado o protocolo e levado pessoalmente ao Congresso a mensagem presidencial e o plano de governo foi uma atitude que mostra seu desejo de manter um bom relacionamento com os parlamentares. Uma sonora mentira, pois um dia antes da eleição de Marco Maia para a presidência da Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto tratou de liberar as emendas individuais dos parlamentares que declararam voto no petista gaúcho.
Na verdade, Dilma Rousseff sabe que não será com o cumprimento do que determina a lei em relação às emendas que o seu convívio com o Congresso alcançará um nível melhor e mais civilizado. Liberar as emendas foi no máximo um agrado pontual, que um dia após a eleição já tinha fugido da memória dos contemplados. A presidente e os mais experientes dos seus assessores sabem que os próximos quatro anos podem ser difíceis se o Parlamento for contrariado em seus anseios.
Quando, em 2003, Lula teve a mesma atitude que Dilma protagonizou na quarta-feira, levando em mãos a mensagem presidencial e fazendo uso do microfone do Parlamento, a estratégia era exatamente igual à adotada pelos palacianos de agora. Tentar ludibriar os parlamentares com doses extras e mentirosas de “bom-mocismo”. Como, segundo a lenda popular, lobo não engole lobo porque engasga com o pelo, restou ao presidente Lula concordar com o esquema criminoso de cooptação de parlamentares, que ficou nacionalmente conhecido como mensalão. Tudo ia muito bem até que a farsa veio à tona.
Dilma não é afeita a esse tipo de ação, mas há no seu entorno assessores com vasta especialidade no assunto. Além dos domínios palacianos há outros tantos companheiros, muitos deles sem cargos e mandatos, prontos para entrar em ação e abocanhar o quinhão a quem têm direito. Que não se engane a população coma atitude de Dilma ter ido ao Congresso, pois esse tipo de cena faz parte de um jogo imundo que alguém um dia decidiu batizar com o nome de política. E como o Brasil é o país do jeitinho, espere, caro leitor, para ver qual será o jeitinho que o Planalto arrumará para que a triunfante (sic) Dilma entre para a História. Provavelmente será uma daquelas conhecidas estórias, cujo epílogo é marcado pela velha frase “eu não sabia”.