Goma arábica – Com fissuras internas cada vez maiores, o PSDB finalmente recobrou a consciência e adotou o óbvio. No programa político do partido que foi ao ar em cadeia de rádio e televisão na noite de quinta-feira (3), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi a estrela maior. Ocupando a maior parte do programa, FHC falou sobre vários temas, destacando a necessidade de o tucanato sofrer uma “chacoalhada”.
Na verdade, o que o PSDB mais precisa é deixar de lado a vaidade pessoal de muitos de seus integrantes, não sem antes entender que o partido há anos está distante do poder federal. Fernando Henrique disse estar decepcionado com a pessoa de Lula, não com o político, pois o ex-metalúrgico, durante sua passagem pelo Palácio Planalto, cometeu vários erros, a começar por sua tolerância com escândalos de corrupção. “Ele permitiu que houvesse certa complacência com a corrupção”, afirmou o cacique tucano. Não há como tirar a razão pontual de FHC, mas no todo não há no PSDB quem possa falar sobre o tema, pois em 2005 o Brasil perdeu a grande chance de mandar Luiz Inácio da Silva de volta para casa.
No rastro da CPI dos Correios descobriu-se que o PT pagara parte dos honorários do marqueteiro baiano Duda Mendonça em uma conta bancária no exterior, aberta em nome de uma empresa “off shore” batizada de Düsseldorf. O dinheiro ilegal era referente aos serviços prestados durante a campanha presidencial de 2002, quando pela primeira vez Lula conseguiu arrancar das urnas uma vitória. Na ocasião, a oposição cogitou apresentar um pedido de impeachment de Lula, mas o PSDB, incluindo Fernando Henrique Cardoso, surgiu com a tese de que era preciso manter a governabilidade do País.
A teoria tucana tinha à época um alicerce convincente para o momento, mas absolutamente frágil no médio e longo prazo. Tucanos e democratas acreditavam que no vácuo daquele escândalo seria fácil derrotar Lula na corrida presidencial de 2006. O resultado aí está. Lula garantiu a reeleição, fez a sua sucessora e deixou o Brasil no caminho de uma ditadura civil.
No contraponto do programa político do PSDB ficou evidente que o ex-presidenciável José Serra está totalmente isolado dentro do partido. Assim como Fernando Henrique ficou na campanha eleitoral de 2010. O que foi uma enorme besteira, pois o ex-presidente, mesmo com os erros ocorridos em seus mandatos, fala bem e tem o que apresentar, começando pela estabilidade da economia brasileira, que permitiu que Lula brincasse o tempo todo de Messias.
Além de FHC, tiveram destaque no programa o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, e o presidente nacional da legenda, o deputado Sérgio Guerra (PE), ex-coordenador da recente campanha de Serra. A participação de Fernando Henrique no programa político, que durou aproximadamente dez minutos, foi gravada a partir de uma espécie de aula ministrada a 120 atentos jovens. O que mostra que o partido quer a renovação, desde já centrada na juventude. “Precisamos estar mais próximos das pessoas, do povo, com menos pompa, coisas mais diretas”, disse o ex-presidente.