Efeito dominó – A nova remessa de vídeos da principal testemunha da operação Caixa de Pandora, Durval Barbosa, trouxe um novo clima de insegurança aos bastidores da política de Brasília. Ao entregar na bandeja de prata a cabeça da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), filmada ao lado do marido recebendo um maço de recursos desviados da Codeplan em 2006, Durval mostra que já não existem limites para sua ação. Na primeira leva de vídeos, que culminaram na queda do então governador José Roberto Arruda (então DEM) e envolveu secretários de Estado, deputados distritais e presidentes e partido, o delator mostrou-se disposto a preservar as hostes de seu criador, o ex-governador do DF, Joaquim Roriz (PSC).
Ao expor Jaqueline, Durval mostra que se sente abandonado e disposto a levar sua estratégia autofágica às últimas consequências. Nesse tiroteio, o recém-eleito governador Agnelo Queiroz (PT) se sente perdido, quase cego. Um dos motivos é o fato de ele próprio ser o ator principal de umas das últimas grandes produções de Durval, feita no ano passado, no período pré-eleitoral. Agnelo jura de pés juntos que foi ao encontro de Durval apenas para assistir às gravações de seus inimigos políticos, sem se envolver em falcatruas, e que não teria denunciado por entender que o material já estava sob domínio da Justiça. Boatos de bastidores dão outra versão. O fato é que o vídeo paira sob Agnelo como uma espada. Talvez não tenha o fio amolado o suficiente para degolá-lo, mas pode feri-lo gravemente.
Outra grande preocupação do governador do DF diz respeito à sua composição de governo. Com quase duas dezenas de partidos integrando sua base, Agnelo conta atualmente com figuras que tiveram importâncias primordiais nos governos de Roriz e de Arruda.
Seu vice-governador, Tadeu Felippelli (PMDB), foi deputado federal e secretário de Obras de Roriz. No governo Arruda, fez indicações em cargos importantes da esfera distritl, como para a presidência da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), onde assumiu à época Luiz Pietchman, seu apadrinhado político, que elegeu-se em outubro deputado federal pelo PMDB.
Aliás, Pietchman (que mudou a grafia de seu sobrenome para Pitiman para facilitar as coisas para seus eleitores) gosta de seguir os passos de seu tutor político. Após eleger-se deputado federal, usando o mesmo número antes ostentado por Filippelli (1515), agora, licenciado da Câmara, exerce o cargo de secretário de Obras de Agnelo.
Outro ex-integrante do governo Arruda com destaque na atual gestão é o secretário de Justiça do DF e deputado distrital licenciado Alírio Neto (PPS). Oriundo da Polícia Civil do DF, Alírio ocupou o mesmo cargo durante o governo Arruda e chegou a ter um de seus assessores preso no estacionamento de um órgão do governo com o carro cheio de maços de dinheiro, parecidos com aqueles que Durval distribuía. O atual secretário tem importância tão reconhecida no governo que tirou da disputa por sua cadeira no governo o deputado distrital mais votado do DF, Chico Leite, do PT, partido de Agnelo, que teve de contentar-se com a Comissão de Constituição e Justiça da assembléia local.
Coincidências à parte, os problemas de Agnelo ainda vão mais longe. Muitos deputados distritais que integraram as bases rorizista e arrudista e que agora integram a colcha de retalhos que é o seu governo ainda continuam na Câmara Legislativa. Alguns deles, como Rôney Nêmer e Benício Tavares, ambos do PMDB, Aylton Gomes (PR) e Bendito Domingos (PP) estão com seus bens bloqueados à pedido da Justiça por suspeita de serem pandoristas.
Importante lembrar ainda que a distrital Eliana Pedrosa (DEM), que foi Secretária de Solidariedade de Arruda, também continua no Parlamento. Junto com a também deputada Celina Leão (PMN), integram a quase inexistente bancada de oposição ao governador Agnelo na Câmara Legislativa.
Celina, aliás, tem relações com Jaqueline Roriz que ultrapassam o simples fato de serem correligionárias. A agora distrital foi chefe de gabinete de Jaqueline quando de sua passagem pela Assembleia local na última legislatura.
Nos corredores do GDF e da Câmara Legislativa dão como certo que algo ligado a Durval poderá trazer Celina para o olho do furacão, junto de sua ex-chefe. Mas por enquanto trata-se de especulação.
De igual maneira especula-se que o autor do vazamento do vídeo de Jaqueline seria seu eventual suplente, o ex-deputado federal Laerte Bessa, que agora integra o PSC de Joaquim Roriz. Chateado com o cacique que lançou a filha nas últimas eleições, Laerte agora estaria se vingando ao comprometer o mandato da filha preferida do ex-todo-poderoso governador do DF.
Mas são mesmo apenas especulações que, caso sejam confirmadas, trarão às telas pelo menos mais meia dúzia de novos lançamentos quentinhos, oriundos da mais famosa videoteca do Brasil. A do Durval, é claro!