Imprensa fatura com a tragédia de Realengo, mas não condena o modelo educacional do País

Carona milionária – A imprensa nacional aproveitou de forma sensacionalista e absurda as reticências do massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, apenas porque o ser humano, que se diz consternado diante de tragédias, busca na desgraça alheia o néctar para enfrentar o cotidiano. O pífio espetáculo protagonizado pelos veículos de comunicação rendeu muito dinheiro, mas em nenhum momento alguém questionou criticar a péssima qualidade do ensino no País, situação que ficou absolutamente clara nos desdobramentos da chacina que teve o finado e franco-atirador Wellington Menezes de Oliveira como protagonista.

As duas cartas deixadas pelo algoz de Realengo – uma na escola e outra em sua casa – mostram que o ensino público no Brasil é de baixíssima qualidade, perdendo apenas para o de países miseráveis. Os erros ortográficos contidos nas duas missivas deixam em evidência uma tese há muito defendida pelos jornalistas do ucho.info. De nada adianta franquear o acesso à rede mundial de computadores à população, se os cidadãos aprendem cada vez menos e o atual nível de conhecimento permite afirmar que grande parte da sociedade é formada por pessoas que se esforçam para fugir do analfabetismo funcional.

O Brasil gasta anualmente o equivalente a 5,1% do Produto Interno Bruto com a educação, enquanto nos países desenvolvidos os investimento na área são em média de 4,8% do PIB. Deixando de lado as escolas particulares, cujos preços estão cada vez mais proibitivos e a qualidade de ensino muitas vezes duvidosa, o nível da rede pública de ensino é vergonhoso, pois qualquer investimento oficial no setor sempre morre nos palanques eleitorais. O melhor exemplo disso está na constatação de que Wellington de Oliveira era esquizofrênico, algo que nenhum professor da escola que serviu como palco da tragédia conseguiu detectar ao longo do período em que o jovem assassino frequentou o estabelecimento educacional.

Logo após o massacre, Wellington foi classificado como um aluno de bom comportamento e sem nenhum registro que o desabonasse. Bastaram algumas horas para que o criminoso passasse a ser classificado como esquizofrênico e vítima de bullying, não sem antes ser alçado ao patíbulo dos entusiastas do terrorismo. Quando um professor não consegue detectar nenhuma anormalidade em um aluno que isola no fundo da classe e deixa de participar das aulas, algo de muito errado há no modelo educacional brasileiro. Ou será que esse estado de alienação da sociedade não é a senha para se implantar uma ditadura civil no País?