Camisa de força – Queiram ou não os políticos, o Brasil é o paraíso da corrupção e das obras superfaturadas. Como se não bastassem os aditivos contratuais que vilipendiam o bolso do contribuinte e colocam sob suspeita nove em cada dez obras públicas, no Brasil os custos pagos pelo Estado para conceber qualquer edificação são criminosamente absurdos.
Como se sabe, a única porta de entrada e saída de Porto Alegre é a ponte sobre o Rio Guaíba. Dota de uma parte móvel, que é alçada por cabos para permitir a passagem de navios, a ponte, que integra a BR-290, vez por outra tem problemas técnicos no sistema elevatório. Há muito desgastado e merecedor de manutenção quase inócua, o equipamento muitas vezes trava, provocando intermináveis congestionamentos na bela capital gaúcha.
Durante a corrida presidencial de 2010, a então candidata do PT, Dilma Vana Rousseff, prometeu na terra de chimangos e maragatos a construção de uma nova ponte, como forma de evitar transtornos, os quais podem, em caso de pane do equipamento elevatório, causar um congestionamento de navios.
Há dias, do outro lado do mundo, lá na terra da Grande Muralha, os chineses inauguraram uma ponte de 42 km sobre a Baía de Jiazhou, ligando a cidade litorânea de Qingdao ao subúrbio de Huangdao. A tal ponte, cuja inauguração fará parte das comemorações do 90º aniversário do Partido Comunista Chinês, é a maior do mundo sobre águas marítimas. A majestosa obra demorou quatro anos para ser concluída e custou aos cofres chineses US$ 2,3 bilhões, o que equivale aproximadamente a R$ 3,59 bilhões.
A nova ponte sobre o Rio Guaíba, de 2,9 km, tem orçamento inicial de R$ 1,16 bilhão e demorará quatro anos para ser finalizada. Comparando os números das duas obras é possível perceber que a ponte chinesa, que exigiu maiores investimentos por conta da adversidade da obra, custou R$ 85,4 milhões por quilômetro, enquanto a sobre o Rio Guaíba custará R$ 400 milhões por quilômetro, ou seja, quase cinco vezes mais.
Em termos de tempo as duas obras se equivalem, mas consideradas as extensões das duas pontes, a versão brasileira demorará quinze vezes mais para ser concluída. Em ritmo chinês, a ponte sobre o Rio Guaíba demoraria 102 dias para ser erguida, sendo que o custo da obra seria de R$ 247,6 milhões, não R$ 1,16 bilhão como previsto. A obra está sob a responsabilidade do Ministério dos Transportes, cuja cúpula, acusada de corrupção, foi demitida pelo ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) a mando da presidente Dilma Rousseff.
Nada ortodoxo em termos de probidade, tal cenário pode ser o ingrediente faltante para Dilma Rousseff decidir pela demissão de Alfredo Nascimento, que alegou desconhecer a cobrança de 4% de pedágio em todas as obras da sua pasta.