Senador quer filhos de políticos na escola pública, mas não cogita a hipótese de receber salário mínimo

Populismo de ocasião – Ao entrar em vigor em 1988, a atual Constituição passou a garantir aos cidadãos o direito à educação, saúde, segurança e transporte, por exemplo, entre tantos itens necessários à cidadania. Fora isso, a mais recente versão da Carta Magna verde-loura também garantia ao trabalhador um salário mínimo mensal condizente que fizesse frente às necessidades básicas de qualquer cidadão. Lamentavelmente, todas essas garantias ficaram no papel, pois a obsolescência do Estado, como um todo, acabou criando um universo bizarro, quiçá não seja predatório.

Como se sabe, as redes públicas de educação e saúde são de fazer inveja a qualquer país subdesenvolvido, tamanho é a inoperância do Executivo diante da premente necessidade de melhora da qualidade dos serviços em questão. Os brasileiros mais aquinhoados, que representam uma ínfima minoria, acabam apelando ao setor privado para ter aquilo que o Estado deveria dar graciosamente a cada um, uma vez que trata-se da contrapartida da gulosa sanha arrecadatória oficial. Tal situação pode ser facilmente constatada com o crescimento do número de escolas privadas e a proliferação de planos de saúde e de empresas de segurança privada.

Senador pelo PDT e ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque é autor do projeto de lei (PL 480/2007) que estabelece a obrigatoriedade de todo político brasileiro – federal, estadual e municipal – matricular os filhos em escolas públicas. No caso da Educação, as diretrizes do setor no âmbito do governo federal são aprovadas no Congresso Nacional a reboque do rolo compressor que o Palácio do Planalto aciona quando quer liquidar positivamente um assunto. E não custa lembrar que Cristovam Buarque, que foi ministro da Educação no primeiro governo de Luiz Inácio da Silva, integra a chamada base aliada.

Polêmica, a proposta tem arrebatado simpatizantes e opositores em todo o País, mas há outras mazelas enfrentadas diuturnamente pelos brasileiros que são merecedoras de propostas idênticas, mas que por certo serão rechaçadas pelos parlamentares.

O projeto do senador Cristovam Buarque em nada contribui para a melhoria da Educação no País, mas serve apenas para reforçar o palanque para as próximas eleições. O que os políticos, em especial os que frequentam o Congresso Nacional, deveriam fazer é abrir mão do plano de saúde oferecido pelas duas Casas legislativas, passando a enfrentar as criminosas filas dos hospitais públicos. Até porque, é fácil e covarde aterrissar nos melhores hospitais do País sabendo que a conta será paga por aqueles que morrem à espera de um atendimento na rede pública de saúde.

Como esse “bom-mocismo” não deve ser desperdiçado, deputados e senadores deveriam atravessar pelo menos um mês com R$ 545 no bolso, fortuna (sic) que esses representantes do povo ousam chamar de salário mínimo.