Corrupção absolvida – O resultado de 256 votos contra a cassação, 166 a favor e 20 abstenções, da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) contrariou muitos deputados, que foram tomados pela indignação. Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) o resultado foi a vitória do anti-parlamento. “A defesa da deputada foi pífia. As provas são contundentes visíveis, incontestáveis. A defesa, inclusive, não negou a corrupção documentada. Os parlamentares não se manifestaram a exceção de um a favor da sua absolvição. Os partidos, a exceção de cinco, são 22 aqui, silenciaram. Deu esse resultado que para mim sinceramente foi surpreendente. Uma legislatura nova. Venceu um silêncio cúmplice que vai significar mais barulho na rua contra a política, contra os partidos, contra o parlamento. É um tiro no pé. E uma cumplicidade com mal feitoria que esse parlamento deveria vedar. Eu fiquei muito decepcionado. O que eu ouvi foi silêncio, vi a omissão, o jogo sorrateiro e essa vergonha que afinal foi aprovada. Pior para todos nós. Pior para o Brasil”
Como se não bastassem as imagens fortes de uma parlamentar recebendo dinheiro oriundo de esquema de corrupção, a questão da temporalidade ainda surtiu efeito positivo para a deputada. “Parece que a corrupção está aqui banalizada, naturalizada. Parece que uma eleição mesmo que a população não tenha as informações todas sobre o candidato, anistia todas as malfeitorias. Parece também que muitos aqui tem medo do próprio passado. Vai que se levanta alguma coisa grave contra mim há cinco anos. Eu quero estar de bem com meu presente. O preceito da constituição sobre vida pregressa ilibada foi jogada no lixo aqui hoje”.
Na opinião de Alencar o padrão da política tem vícios antigos. “O processo eleitoral parece que comporta dinheiro espúrio, dinheiro de empresário que tem interesse no governo”.
“É bom lembrar que o ministro José Eduardo Cardozo, tão citado pela defesa, diz nesse mesmo parecer que fatos novos, que tenham vindo a público depois da eleição do parlamentar são, sim, elementos fundantes de um processo de cassação. É óbvio, o eleitorado foi iludido, ludibriado. Os fatos são graves. Aliás, quando a própria deputada distrital mencionou o mesmo para cassar com o voto colegas da mesma Caixa de Pandora que cometeram o mesmo delito”, desabafa o deputado carioca.
O voto secreto não combina, realmente, com uma democracia moderna. “É outro elemento vergonhoso. Esse conluio de compadrio do chá das cinco ele acabou vitorioso. Nova legislatura, velhas práticas corporativistas de tolerância com o que é intolerável. Somos 166 e esses têm que lutar para resignificar a política para recuperar a ética republicana que sofreu um rude essa noite aqui na Câmara dos Deputados.”
O deputado José Antonio Reguffe (PDT-DF) afirmou que a Câmara, com essa decisão, se distancia da sociedade. “Aprofunda, ainda mais, o enorme fosso que já existe hoje que separa a sociedade do parlamento”, disse profundamente contrariado. Quando questionado sobre a expectativa de futuro de jovem que pretende entrar na política respondeu: “Ele não deve perder seu ideal por ver coisas erradas. Isso deve, sim, servir como combustível para ele se engajar mais e tentar mudar o país que ele vive.”