Briga de foice – Depois de analisar minuciosamente a amaldiçoada herança deixada por Luiz Inácio da Silva, seu antecessor, a presidente Dilma Rousseff está dando as cartas na política econômica nacional. Trata-se de prerrogativa legitimamente conquistada nas urnas, o que não significa que o caminho escolhido por Dilma é o mais recomendado. Se der certo, a presidente entrará para a História pela porta da frente. Se der errado, a conta, como sempre aconteceu nos últimos quinhentos anos, cairá no colo do contribuinte, não sem antes fazer estragos na vida de cada um dos quase 200 milhões de brasileiros.
Sem saber como lidar com a resistência da inflação e temendo as consequências da crise internacional, Dilma Rousseff passou a interferir nas decisões do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, que até recentemente tinha autonomia para decidir sobre a taxa básica de juro da economia. A presidente da República vem apostando cegamente nas sugestões feitas pelos integrantes da equipe econômica, como se os números atuais nada representassem.
Teorias absurdas, baseadas na fanfarrice do “achismo”, pautam a vida econômica do País, considerado por muitos como um dos emergentes. Acontece que não há emergência quando a economia de uma nação caminha sobre o fio da navalha na maior parte do tempo. Não faz muito tempo, o Palácio do Planalto comemorou de forma efusiva o ingresso de 39 milhões de novos integrantes na chamada classe média, movimento que se deu não por geração de riqueza por parte de cada um, mas pelo consumismo irresponsável que encontrou força na concessão do crédito fácil. Essa fórmula milagrosa saiu da escrivaninha da Lula da Silva, que se valeu do endividamento recorde das famílias brasileiras para manter em alta seus índices de aprovação popular.
Há muito esperado, mas não admitido por sete entre dez brasileiros, o pior agora se manifesta de maneira assustadora, mesmo que alguns palacianos tentem minimizar a situação. Em agosto, a produção industrial brasileira registrou recuo de 0,2%, em comparação com o mês anterior. Há quem afirme que o cenário industrial não é a única bússola da economia, mas a indústria representa um terço do Produto Interno Bruto. Ou seja, se não é a única bússola, a indústria é uma das mais importantes referências da economia nacional.
Esse claro sinal de desaceleração da economia deve levar o Banco Central a nova redução da taxa de juro, como forma de não desaquecer o mercado interno. Acontece que reduzindo os juros o Copom poderá contribuir para a permanência da inflação. Fora isso, quando ocorre retração da atividade industrial, o passo seguinte é a redução do emprego, que por sua vez pode aumentar a inadimplência. Com o corte das vagas de trabalho, as despesas do governo federal com o chamado seguro-desemprego aumentam, assim como diminuem as contribuições para a Previdência Social. Ou seja, o governo federal terá mais despesas e menos receitas.
Mesmo que o Copom, em sua próxima reunião, decida reduzir o juro, os bancos já se preocupam com o recuo da atividade industrial brasileira, situação que deve encarecer o custo do dinheiro para o consumidor, pois instituições financeiras trabalham com um coeficiente fixo de lucratividade. Se o risco aumenta, o custo do dinheiro sobe na mesma proporção. Fato é que a fórmula adotada por Dilma Rousseff para tirar a economia verde-loura da zona de risco é muito perigosa. E tal cenário não dá ao Brasil a condição de oferecer ajuda à Comunidade Europeia, que há meses sofre as consequências do calote anunciado da Grécia e que, se consumado, deverá afetar várias economias do Velho Mundo e colocar na forca importantes bancos da Alemanha, França e Inglaterra.