(*) Dinez Costa, especial para o ucho.info –
Durante audiência pública de três comissões do Senado, especialistas defenderam, nesta terça-feira (25), a adoção de queimadas controladas para evitar incêndios de grandes proporções, sobretudo no Cerrado. Leopoldo Coutinho, professor de Ecologia da USP, disse que esse tipo de bioma exige a ação do fogo porque se a biomassa seca acumulada não for destruída periodicamente ela funciona como combustível para futuros incêndios, provocados por causa naturais, como os raios, ou pela ação do homem.
“Queimada é fogo sob controle; incêndio é fogo sem controle. A melhor técnica é se antecipar, fazendo queimadas em pequenas áreas, em rodízio”, afirmou, lembrando que ano passado um incêndio destruiu quase a totalidade no Parque Nacional das Emas, em Goiás, matando 800 tamanduás-bandeira.
Outra convidada da reunião, Vânia Pivello, também do departamento de Ecologia da USP, destacou que o Cerrado precisa do fogo para se desenvolver. De acordo com ela, as pequenas queimas não danificam a raiz das plantas e os bulbos, ao contrário, estimulam o processo de rebrota. Já no caso das florestas da região Amazônia o uso do fogo não é aconselhado, pois ele provoca a perda de biodiversidade. “O Cerrado é fundamentalmente diferente de floresta tropical, é dependente e adaptado ao fogo”, observou.
Ela disse ainda que as queimadas em áreas de pecuária costumam potencializar incêndios porque geralmente são feitas no final da seca, quando a umidade está baixa, já as queimadas naturais começam no início do período chuvoso, quando a atmosfera está mais úmida e portanto o fogo causado por relâmpagos é mais ameno.
De acordo com a professora, a ausência de fogo controlado no Cerrado prejudicaria a biodiversidade e possibilitaria a invasão de espécies exóticas, excluindo as plantas nativas. Este foi o caso da branquiária, que veio da África e hoje é a principal espécie de capim nas pastagens brasileiras.
Irving Foster Brown, professor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Serviços Ambientais da Amazônia, propôs a criação de um programa integrado de defesa civil para enfrentar secas, incêndios florestais e inundações no país. De acordo com ele, o projeto deve incluir suporte educacional do ensino básico até a pós-graduação.
Em sua opinião, o centro nacional de controle seria ligado às unidades de defesa civil nos níveis estadual e municipal. O especialista advertiu que tal medida é vital porque “uma vez espalhados, os incêndios florestais não podem ser controlados”.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), apoiou a proposta de criação de um departamento nacional de controle de incêndios. Segundo ele, Brasília deveria sediar esse centro de prevenção e combate aos incêndios, que disponibilizaria, ainda, programas de recrutamento e de qualificação de voluntários que ficariam aptos a atuar em situações de emergência.
“A contribuição dos professores é valiosa. Precisamos aumentar cada vez mais a interlocução entre o Congresso Nacional e a academia, unindo esforços para evitar incêndios avassaladores no Cerrado e em outros biomas”, afirmou Rollemberg.
Também presente aos debates, Bráulio Ferreira de Souza Dias, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, alertou que o Brasil deve desenvolver atividades que tornem a floresta menos vulnerável. Citou exemplo de países como Estados Unidos e Canadá que enfrentam grandes incêndios com equipamentos aéreos de alto custo e investimentos na formação de recursos humanos.
Dias sugeriu, ainda, que o novo Código Florestal incluía a possibilidade de uso de fogo em forma de mosaico, com o objetivo de diminuir a incidência de incêndios em ambientes como o Cerrado. Isso porque o Código de 1965, que está em vigor, proíbe o uso do fogo. Entretanto, um decreto de 1998 estabelece normas de precaução relativas ao emprego do fogo em práticas agropastoris e florestais.
O relator do Código Florestal da CMA, senador Jorge Viana (PT-AC), pediu que especialistas formalizassem sugestões para que ele faça avaliações e defina o que pode ser incluído no Código Florestal. “Essa questão é gravíssima e se não há investimentos para controlar incêndios nas unidades de conservação, muito menos em outras localidades. Além de matar animais e destruir vegetação, por conta do processo de ocupação desordenada muito em breve os incêndios podem vitimar seres humanos”, concluiu o senador.