Com chances de ser mais grave que o previsto, crise europeia deve contaminar diversas economias

Efeito retardado – Quando a crise que chacoalha a Europa começou a dar os primeiros sinais de sua voracidade, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, disse que o Brasil não seria afetado. Um discurso ufanista, pois naquele momento era impossível prever os desdobramentos da crise europeia. Por mais que a situação no Velho Mundo tenha piorado sobremaneira, vislumbrar um totalmente positivo é mero exercício do otimismo infundado e irresponsável.

Com a zona do euro vivendo seguidos dias de incerteza, a Europa está a um passo de entrar na recessão, o que certamente afetará muitas economias locais, começando pela Grécia e Portugal, que recentemente receberam socorro financeiro do bloco. O problema da recessão é que em um primeiro momento os preços caem e os consumidores, com medo do futuro, preferem adiar a compra por conta de uma eventual nova redução nos valores dos produtos e serviços. Tal cenário desaquece a economia e encolhe a arrecadação do Estado, binômio explosivo para quem almeja sair da crise com as próprias pernas.

Com isso, o Brasil, um conhecido exportador de commodities, terá problemas para vender aos europeus. Tal situação deve ser repetir em relação aos Estados Unidos, que vêem a recuperação da economia acontecer de forma mais lenta do que era esperado.

Para ao menos minimizar os efeitos da crise europeia, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o País financiará as empresas brasileiras que atuam no exterior, caso a oferta de crédito internacional seja reduzida por causa da crise. Internamente, Dilma aposta nos quase 40 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média, embalados pelo crédito fácil, consumo irresponsável e endividamento recorde.

Tido como um país emergente, o Brasil vive situação sui generis, pois a combinação dos fatores acima mencionados ganha reforço extra e preocupante quando na análise é considerada a resistente e malfadada inflação, parte integrante do amaldiçoado espólio de Luiz Inácio da Silva. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve reduzir a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, atualmente em 11,5% ao ano. O recuo da Selic pode representar um ingrediente a mais para manter a inflação na casa de 6%.

O cenário que impera no continente europeu torna-se ainda mais preocupante, pois alguns países que integram o bloco econômico podem deixar a União Europeia. Prova disso é a simulação que algumas instituições financeiras fizeram com a volta da moeda grega. Se isso de fato acontecer, a crise da Europa poderá ser muito mais grave e longa do que se imagina.