Tudo dominado – Está cada vez mais evidente que a política é a arte da incoerência. Desde que o Partido dos Trabalhadores desembarcou no Palácio do Planalto, os agora partidos de oposição tentam sem sucesso retornar ao poder. Para tal têm tentado investidas das mais diversas, as quais são vergonhosamente aniquiladas pela força que emerge da base aliada, que no Congresso Nacional vota de acordo com as vontades palacianas.
Por questões históricas e numéricas quem lidera a oposição é o PSDB, partido que durante oito anos esteve no poder central com Fernando Henrique Cardoso e companhia bela. Recentemente, o PSDB tentou, sem sucesso, convocar o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), para que explicasse suas milionárias consultorias econômicas prestadas após a saída do petista da prefeitura de Belo Horizonte.
Entre os tantos argumentos elencados pelo tucanato está a questão da ética pública, algo raro de se encontrar nos dias atuais. Acontece que o discurso do PSDB cai por terra quando o líder do partido na Câmara dos Deputados, Duarte Nogueira, é flagrado em transgressão primária. De acordo com reportagem publicada na edição desta quinta-feira (22) do jornal “Folha de S. Paulo”, Duarte Nogueira “paga com dinheiro público um motorista particular que atende a seus filhos no interior paulista”.
Contratado desde julho passado como secretário particular do deputado tucano, com salário que pode chegar aos R$ 1.900 mensais, José Paulo Alves Ferreira, conhecido como Paulo Pedra, foi escalado para dirigir para os filhos de Duarte Nogueira em Ribeirão Preto, próspera cidade do interior paulista e reduto eleitoral do líder do PSDB.
O parlamentar entende que nada existe de anormal no caso, mas o Ministério Público Federal considera desvio de função a atuação de servidores em tarefas particulares. Em setembro, o Ministério Público do Distrito Federal do DF abriu inquérito para investigar o ex-ministro do Turismo e deputado federal Pedro Novais (PP-MA) por conta de transgressão idêntica.
Duarte Nogueira alega que o motorista presta serviços à família somente após o horário de expediente. Mesmo que essa seja a realidade dos fatos, Duarte Nogueira, que na Câmara representa um partido político que estoca insistentemente o governo atual e sonha com a volta ao poder, poderia evitar vexames dessa natureza, algo que no dito popular é conhecido como “coisa de larápio de penosas”. Diante do mais novo escárnio, o PSDB deveria rever as cobranças que faz em relação aos atuais donos do poder, pois não importa o valor do delito cometido, mas o ato em si.
O grande enigma que ainda paira sobre a classe política é a questão dos altos investimentos nas campanhas eleitorais. Para se ter ideia da extensão do absurdo, um candidato a deputado federal por um estado do Nordeste, por exemplo, só alcança a seara da elegibilidade se aceitar que cada voto lhe custará R$ 50. Eleito por um partido de média expressão nacional, um candidato com 160 mil votos terá gasto, em três meses de campanha, R$ 8 milhões para chegar à Câmara. Acontece que nos quatro anos de mandato o eleito auferirá perto de R$ 1,5 milhão em salários. Até hoje ninguém ousou explicar esse delta financeiro, que no exemplo acima é de R$ 6,5 milhões.